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Depoimentos a CPI ligam PT ao jogo do bicho

Por Agencia Estado
Atualização:

Os depoimentos de dois delegados de Polícia na CPI de Segurança Pública do Rio Grande do Sul colocaram nesta quinta-feira o governador Olívio Dutra (PT) no centro de uma denúncia sobre utilização de verbas do jogo do bicho. Os policiais revelaram que o ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino teria dito, logo depois de assumir o cargo por indicação de Olívio, em janeiro de 1999, que a partir daquele momento o dinheiro do jogo do bicho seria centralizado e encaminhado para obras de assistência social da primeira-dama. "O delegado Tubino comentou que os bicheiros estavam disponibilizando verbas para o governo", afirmou aos parlamentares o delegado Farnei Goulart, ex-diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A orientação foi transmitida para um grupo de delegados ao final de uma reunião do Conselho de Administração Superior (CAS). Antes o chefe de Polícia já teria falado sobre o assunto com o diretor da Divisão de Assessoramento Jurídico, delegado Nelson Oliveira, que nesta quinta reproduziu o diálogo. "Então agora o dinheiro do bicho só vai para o chefe", questionou na ocasião Oliveira, a partir de informações de bicheiros. "Sim, mas o chefe não sou eu, é o Olívio, o PT", teria afirmado Tubino. Conforme o ex-assessor jurídico, a forma "maliciosa" como o chefe falou o surpreendeu. "Ele deu um carteiraço para despistar, acusando o governador de forma inescrupulosa ", disse nesta quinta Oliveira, que também ficou sabendo do comentário feito na reunião do CAS. "O recado que isso continha é que o PT está interessado nessa atividade". As declarações provocaram uma reação dos líderes do governo na CPI, que acusaram os dois delegados de serem "irresponsáveis" e solicitaram que seus depoimentos fossem encaminhados ao Ministério Público para investigação. O chefe da Casa Civil, Flávio Koutzzi, disse que os depoimentos eram uma tentativa de "desviar e bloquear" as investigações em torno do jogo do bicho - algumas delas envolvendo deputados de oposição - e colocou toda a documentação das atividades de assistência social da primeira-dama à disposição. "Assistimos hoje a um lamentável espetáculo, que representa uma atitude de alguns setores da polícia que se assemelha ao funcionamento de quadrilhas ameaçadas pela atitude firme do governo de investigar tudo isso com profundidade", disse Koutzzi. O teor das denúncias já era conhecido previamente por vários parlamentares de oposição, que vinham esperando a hora certa para convocar os delegados. "Tão logo terminou essa reunião (do CAS), o comentário do chefe de Polícia se espalhou como água morro abaixo e fogo morro acima", contou o delegado Oliveira. Apesar desses boatos, o governo nega que tivesse conhecimento do comentário. Tubino nunca sofreu qualquer repreensão e só foi afastado da função um ano depois devido a outras divergências no comando da Segurança Pública gaúcha. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke, disse que falou pessoalmente com o vice-governador Miguel Rossetto "no dia 1º de fevereiro de 1999 às 17 horas", e relatou o que havia ouvido. "Era uma informação de conhecimento geral, que expunha a primeira-dama, e ele disse que iria averiguar". A assessoria de Rossetto confirma que ele recebia Krischke em seu gabinete, mas nega o teor da conversa. Reservadamente, os delegados também dizem que Tubino teria divulgado na reunião da CAS que falava em nome do chefe de gabinete do governador, Laerte Meliga, e de seu ex-secretário Diógenes Oliveira. Os dois teriam sido os contatos do PT para exigir as verbas do jogo do bicho. As denúncias contra o governo surgem menos de uma semana depois de a imprensa divulgar um inquérito policial que investiga doações de bicheiros para campanhas eleitorais de deputados gaúchos. Um dos parlamentares investigados é o vice-presidente da CPI, Elmar Schneider (PMDB). A polícia identificou um recibo de doação de um suposto bicheiro de Estrela, Gühnder Wolfgang Müller, em favor do PMDB municipal, datado de 24 de julho de 1992, e um cartão de felicitações enviado por Schneider para Müller. "Conheço ele, é da minha cidade, mas nunca recebi nenhuma doação, até porque não fui candidato em 1992", afirmou nesta quinta o parlamentar do PMDB.

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