Depoimento de Jader não convence comissão

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Por Agencia Estado
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Nem mesmo com ameaças veladas a alguns senadores e ao governo conseguiu o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), livrar-se de um processo por quebra de decoro parlamentar, no Conselho de Ética. Após seu depoimento, dois dos três integrantes da comissão de investigação, senadores Jefferson Peres (PDT-AM) e Romeu Tuma (PFL-SP), asseguraram ser este o seu destino. A tática dos parlamentares, mantida em sigilo até então, é a de enquadrá-lo por abuso de poder. É assim que eles caracterizam o fato de Jader ter engavetado, de março a junho, o requerimento da oposição ao Banco Central, pedindo cópia das auditorias, sindicâncias e inspeções feitas no Banpará no período de 1983 a 1987, quando Jader era governador do Estado. No entender do senador Jefferson Péres (PDT-AM), o presidente do Senado atuou em causa própria. Jader proibiu a gravação do depoimento, que durou três horas e meia. Suas palavras foram taquigrafadas, mas a divulgação do texto vai depender de sua autorização. Em seu gabinete, ele respondeu a todas as perguntas, invariavelmente se valendo da estratégia de afirmar que foi inocentado pelo Banco Central da acusação de ter sido beneficiado por recursos desviados do Banpará. O senador repetiu que está sendo vítima de uma campanha de difamação. Categórico Pela primeira vez, ele foi categórico ao negar que tenha se beneficiado de recursos desviados do Banpará. Jader justificou seu patrimônio milionário, dizendo que é fruto de seu trabalho como advogado, professor e como empresário. A afirmativa, de acordo com o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), membro do Conselho de Ética, pode igualmente vir a fundamentar um processo por falta ao decoro, se ficar comprovado que ele mentiu. "Ele tinha o cuidado em evitar esse tipo de declaração", lembrou Antero. No documento que leu e que entregou aos senadores, Jader afirma que só soube que seu nome estava envolvido no desfalque do Banpará "por meio de uma notícia estampada no jornal O Estado de São Paulo", em 1996. Tempo A tática dos senadores da comissão, de acusá-lo por abuso de poder, se deve ao pouco tempo de que dispõem para trabalhar. Eles necessitariam de pelo menos mais um mês, se tivessem de aguardar o resultado da perícia dos documentos que - acreditam - vai mostrar que Jader mentiu. Peres crê que o processo poderá ser formalizado em uma semana, a contar do recebimento pela Mesa do parecer da Conselho de Ética. Na entrevista que concedeu após o depoimento, o presidente licenciado disse que não havia deixado nenhuma pergunta sem resposta. Segundo ele, a tentativa de enquadrá-lo por abuso de poder é "um desvio, uma conversa fiada". "Fui eu, como presidente do Senado, quem pediu os documentos ao Armínio Fraga". No seu entender, os senadores "estão delirando", porque não encontraram forma de acusá-lo pelo desfalque do Banpará. Para formalizar o processo, a comissão pediu explicações à Mesa Diretora do Senado sobre os motivos de retenção do requerimento. De acordo com os senadores, o pedido ficou parado três meses e 17 dias, embora já tivesse um despacho do então vice-presidente, Edison Lobão (PFL-MA), remetendo o requerimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Solidariedade Jader esmiuçou todos os pontos dos relatórios do Banco Central que acredita inocentá-lo, embora a instituição já tenha se manifestado de que os "indícios" contra ele são muito fortes. Ele pinçou sobretudo trecho do parecer assinado pelo ex-presidente e pelo procurador-geral do banco, Francisco Gros, e José Coelho Ferreria. Outra tática foi a de desqualificar o auditor Abraão Patruni Júnior, que mostrou como ocorreram os desvios do Banpará. Além de dizer que Patruni "é um funcionário que não é levado a sério pelos seus superiores", Jader insinuou que ele estaria ligado a seus desafetos na campanha eleitoral de 1990. Além do senador João Alberto (PMDB-MA), apenas o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL) e o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) estiveram no gabinete de Jader. A ausência da maioria dos integrantes da bancada, formada por 25 senadores, mostra o isolamento em que ele se encontra, principalmente se comparado à solidariede que, antes, costumava receber se seus correligionários. Calheiro saiu do depoimento deixando claro que sua preocupação é muito mais com o partido com que com o colega. Ele evitou comentar o desfecho do processo contra Jader.

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