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Denúncias fazem PFL temer pela candidatura de Roseana

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os dirigentes do PFL não têm dúvida de que a devassa da Polícia Federal na empresa Lunus Serviços e Participações produziu um enorme estrago eleitoral na candidatura presidencial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O clima de desolação é tamanho que eles já admitem, nos bastidores, a alternativa de uma terceira via pela qual poderiam, até, recompor a aliança rompida com os tucanos. Ressuscitam, assim, a velha tese do "plano B", que setores do PSDB e do Palácio do Planalto dizem estar arquivada. Toda a cúpula tucana garante que o partido hoje só tem um plano. "E nosso único projeto nem é o plano A, mas o S, de Serra", resume o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio Neto, referindo-se à candidatura presidencial do senador José Serra (PSDB-SP). Já decolou A aposta geral de tucanos é que Serra já decolou e seguirá crescendo devagar, mas de forma consistente. Setores do partido e do Planalto, porém, chegaram a montar um plano B em que o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), encabeçaria uma chapa presidencial com o PFL, caso os pefelistas desistissem da disputa e recusassem apoio a Serra. Ninguém mais fala nisso no PSDB, especialmente agora, em que até o PFL acusa o golpe à candidatura Roseana. Consultores e dirigentes do PFL e dos partidos governistas avaliam que o grande prejuízo do PFL no episódio da devassa na empresa Lunus, de propriedade da governadora e de seu marido, Jorge Murad, foi a morte do "mito Roseana". Pilhas de dinheiro "A imagem daquela mesa lotada de pilhas de dinheiro, dando a idéia da quantidade necessária de cédulas para juntar o R$ 1,34 milhão que a Polícia Federal encontrou na Lunus, foi devastadora", analisa um importante pefelista. Ele acredita que a descoberta de uma quantia tão volumosa sem explicação convincente sobre a origem do dinheiro trouxe Roseana para o nível rasteiro da política, provocando suspeição sobre ela. "A marca do novo, da mulher nordestina que sabe governar e fazer política de um jeito diferente, acabou virando lugar comum", lamenta. Toda a campanha de Roseana até agora vinha ocultando cuidadosamente o PFL, que não desfrutou do ganho de popularidade da candidata. Na momento da crise, porém, ela colou no partido, o que, na avaliação dos próprios pefelista, acaba reforçando os aspectos negativos da legenda que já tinha uma imagem ruim, especialmente no Sudeste. Crise mal gerida A grande vitória de Roseana esta semana foi sua demonstração de força e liderança, fazendo com que o partido preferisse romper com o governo a ter de renunciar à candidatura. Uma proeza que nem o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) havia conseguido. Mas os mesmos correligionários que elogiam a força de Roseana argumentam que a crise foi mal gerida, porque ela e o PFL adotaram o mesmo discurso da negação e da perseguição política, repetindo outros acusados como ACM e o também ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Apesar de todos esses problemas que abateram os pefelistas, até os dirigentes do PSDB admitem que o episódio não produziu dividendos eleitorais para Serra. Dirigentes tucanos como o líder na Câmara, Jutahy Júnior (BA), passaram a semana repetindo, insistentemente, que a devassa na empresa foi um ato legal da Polícia Federal, atendendo à Justiça, que havia expedido outros 82 mandados de busca e apreensão semelhantes, durante a investigação de desvio de recursos da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Sem persiguição Em defesa da tese de que o governo não concedeu privilégios nem perseguiu ninguém, Jutahy acrescenta que a investigação da Lunus não ajuda em nada a candidatura Serra. "Se há alguém que não tem interesse em baixar o nível da campanha, esse alguém é Serra", sustenta o líder, ao frisar que a candidatura tucana é baseada em idéias e propostas que só podem ser discutidas em um ambiente de alto nível. Hoje, porém, líderes do PFL, PSDB e PMDB concordam que o nível da campanha já baixou e o clima da disputa será muito mais próximo da troca de acusações, de dossiês e ofensas que dominou a corrida presidencial de 1989, do que das disputas de 1994 e 1998. E todos também acreditam que só o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou com o racha na base governista e as denúncias contra Roseana. "Ele estava agonizando em meio às brigas internas do PT e agora pode crescer com a volta do debate da moralidade e da ética na política, que tinha saído de cena", avaliam os governistas. Cautela Assim como o PFL, o PSDB também encomendou uma pesquisa para medir o impacto dos últimos acontecimentos na corrida presidencial. O levantamento começa a ser feito neste domingo. Até que o quadro fique mais claro, a palavra de ordem é cautela, no partido e no governo. Preocupado com a governabilidade, o presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou aos tucanos que evitem confronto e provocações. De sua parte, anunciou que não haveria caça às bruxas e acolheria os pefelistas que optassem por permanecer nos cargos depois do rompimento. A cúpula do PSDB reconhece que Roseana teve competência para transformar a investigação sobre sua empresa em fato político. Mais ainda, os tucanos admitem que, bem ou mal, ela roubou a cena do próprio Serra, que aguardava ansioso seu momento de "superexposição" em cadeia de rádio e televisão, no horário gratuito de propaganda do PSDB. Mas, no caso da boa vontade de Fernando Henrique com o PFL neste momento, o tucanato alerta: "É muito mais uma forma de desmoralizar o rompimento do que generosidade ou reconhecimento da força pefelista." Apesar da falta de repercussão do programa do PSDB, a cúpula do partido gostou do desempenho do candidato e está convencida de que o programa atingiu seu objetivo: apresentar Serra para os eleitores das classes C, D e E, uma vez que a audiência chegou a 64 pontos, superando os 60 pontos alcançados pelo programa de Roseana. Não que a repercussão não fosse desejada, mas ela se daria especialmente nas classes A e B, que têm acesso a jornais e já sabem da candidatura Serra. PMDB Enquanto pefelistas e tucanos fazem contas, o PMDB respira aliviado. Mesmo sem registrarganho substantivo na última semana, a direção do partido está contente por ter ganho tempo para se definir, reduzindo ao máximo a dissidência. Com o rompimento do PFL e o desgaste de Roseana, a cúpula que sonha com a vice de Serra perdeu a pressa em fechar a parceria. Primeiro porque a convenção nacional de sexta-feira derrubou as prévias que escolheriam o candidato próprio do partido na semana que vem, no embalo do fraquíssimo desempenho dos pré-candidatos (governador Itamar Franco, senador Pedro Simon e ex-ministro Raul Jungman). Depois, porque o resultado da devassa na Lunus intimidou a ala do PMDB que defende a composição com o PFL, como quer o pai de Roseana, senador José Sarney (AP).

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