A situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se complica ainda mais. Já são três frentes de investigação abertas contra o senador em resposta a série de acusações que pesam sobre ele. A última, que envolve uso de "laranjas" na compra de emissoras em Alagoas, preocupa o Planalto e faz aumentar o coro dos que pregam sua renúncia da presidência. Renan já afirmou em diversas ocasiões que "nada teme" e não deixa o cargo. Veja tambem:Cronologia do caso Renan Veja especial sobre o caso Renan Veja os 30 quesitos da perícia da PF De emissoras e "laranjas" A entrevista do empresário João Lyra à revista Veja desta semana, confirmando que Renan usava "laranjas" para esconder a sociedade dos dois em empresas de comunicação, praticamente selou a decisão de a Mesa da Casa mandar para o Conselho de Ética o terceiro pedido de abertura de processo contra o presidente do Congresso, que deve ser votado nesta quinta-feira. Lyra, que hoje é adversário de Renan, confirmou a sociedade oculta com o peemedebista. Na parceria, que durou entre 1999 e 2005, para a compra da JR Radiodifusão e d'O Jornal, Renan teria investido R$ 1,3 milhão, segundo o empresário. O usineiro contou que, como o senador não podia aparecer, registrou a empresa em nome de dois "laranjas": Renan Calheiros Filho, o Renanzinho, e Tito Uchôa, seu primo. Em resposta, Renan apenas afirma que está sendo "alvo de disputa política regional". Na semana passada, em discurso na tribuna, afirmou que é vítima de adversários políticos derrotados em Alagoas, citando Lyra e a ex-senadora Heloísa Helena, do PSOL, partido que representou contra ele. O senador também partiu para o ataque, acusando a Editora Abril, que edita a revista Veja, de negócio suspeito na venda da TVA para a Telefônica. Favores e venda de gado As irregularidades no uso de "laranjas" vêm a se somar a dois outros caos: o do lobista e o da Schincariol. O primeiro foi o detonador do caso. Renan é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista da Mendes Júnior Cláudio Gontijo e tenta, sem sucesso, provar que tinha rendimentos suficientes para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. Para comprovar que não precisava de recursos do lobista, Renan apresentou documentos cheios de irregularidades. Segundo o senador, foram R$ 1,9 milhão em quatro anos. Renan diz apenas que Gontijo é seu amigo pessoal e que intermediava o contato com Mônica por se tratar de um caso extraconjugal. No Conselho de Ética, após diversas reviravoltas - como três mudanças de relator -, o processo aguarda a conclusão da perícia da Polícia Federal nos documentos de defesa. O laudo vai dizer se os recursos têm origem legal e deve ficar pronto nesta quinta-feira. Negócios suspeitos Já a denúncia que envolve a Schincariol consiste na venda supostamente superfaturada de uma fábrica da família Calheiros por R$ 27 milhões, quando não valia mais de R$ 10 milhões. Em troca, Renan, conforme a acusação, teria favorecido a empresa junto ao INSS, impedindo a execução de uma dúvida de R$ 100 milhões, o que ele nega. O caso Schin virou processo no Conselho de Ética no Senado na semana passada e aguarda a escolha de um relator, o que está previsto para acontecer esta semana. Renan nega favorecimento à empresa e irregularidades no negócio de sua família. STF e pressões de senadores O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abrir inquérito para investigar as denúncias e já autorizou a abertura dos sigilos bancário e fiscal de Renan nos últimos sete anos. O inquérito trata inicialmente do pagamento de despesas por um lobista, mas também pede esclarecimentos de suspeitas de favorecimento ilícito ao grupo Schincariol. O uso de 'laranjas' na compra de duas emissoras de rádio em Alagoas ainda pode ser anexado à investigação. Para pressionar Renan a deixar a presidência, senadores do DEM e do PSDB já anunciaram que vão obstruir votações de interesse do governo. O senador também sofre constrangimentos nos discursos em plenário pedindo sua saída. Renan já chegou a afirmar que não será um novo 'Severino' e resistirá até o último momento na presidência, pois tem plena convicção de sua inocência. Severino Cavalcanti (PP-PE) foi presidente da Câmara dos Deputados e, em 2005, renunciou ao cargo para evitar ser cassado sob a acusação de receber propina de dono do restaurante da Casa.