Principal interlocutor do governador Geraldo Alckmin na Executiva Nacional do PSDB, o deputado federal Silvio Torres, secretário - geral da legenda, avalia que o ambiente no PSDB em relação ao presidente Michel Temer mudou desde a reunião que decidiu no último dia 12 pela permanência dos tucanos no governo. "Essa mudança de posição do FHC (Fernando Henrique Cardoso) não é diferente de uma mudança que já está acontecendo no PSDB", disse ele ao Estado ao comentar o pedido do ex-presidente para que Temer renuncie ao cargo. Torres também defende uma mudança completa na composição Executiva Nacional tucana que se abra espaço para prefeitos e governadores, o que ampliaria a influência de Alckmin na cúpula partidária
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende agora a renúncia de Michel Temer e a antecipação das eleições. Foi uma surpresa no partido essa mudança de discurso? Essa mudança de posição do FHC não é diferente de uma mudança que já está acontecendo no PSDB. O ambiente mudou (desde a reunião ampliada da executiva no dia 12). A denúncia provoca uma reavaliação. O Fernando Henrique, que é uma referência no partido, foi um dos que defendeu a permanência do PSDB no governo Temer. A justificativa era que precisávamos ficar no governo para avançar nas reformas. Ficou decidido então fazer um monitoramento permanente do governo para ver se Temer seria capaz de cumprir essa agenda.
O que mudou? Nesse tempo, o presidente claramente perdeu força, e isso passa insegurança sobre a capacidade de cumprir a agenda (das reformas). Para se manter no poder, Temer pode fazer negociações que comprometam ainda mais a situação.
Então nesse vai e vem do PSDB,a posição de permanecer no governo não é mais majoritária? Como a avaliação é permanente, uma nova posição amadureceu no PSDB. O apoio do partido está reavaliado.
Qual o prazo para essa decisão final sobre o desembarque? Não há uma data definida. Pode ser antes, durante ou depois da denúncia. Mas nesse ritmo de perda de confiança, o quadro é quase irreversível.
É um constrangimento para o PSDB manter o senador Aécio Neves na presidência do partido? Vamos fazer uma reunião da Executiva Nacional. O tema principal será a realização de uma nova convenção nacional. É uma proposta consensual. A crise exige do PSDB definições claras. Além disso, estamos quase na pré-campanha para 2018. Possíveis concorrentes já estão se posicionando. Questões fora da política envolvem membros do partido, e o Aécio é um deles. A posição dele como presidente limita a ação dele e do partido. O presidente interino do PSDB precisa ter uma autoridade conferida pelo partido. O mandato do Aécio, como o de todos os membros da executiva, foi prorrogado. A realidade nacional era outra quando a Executiva decidiu prorrogar até maio de 2018. Como faz para eleger uma nova Executiva Nacional em maio de 2018, às vésperas da eleição?
Qual é a sua proposta? Cessar a prorrogação da atual Executiva Nacional e eleger uma nova até setembro ou outubro. A ideia é chegar até o final do ano, ou no máximo janeiro de 2018, com o nosso candidato à Presidência definido.
O que deve mudar na Executiva, que hoje é formada majoritariamente por integrantes do Congresso Nacional? A Executiva hoje representa o resultado das eleições de 2014. Tem muitos parlamentares. Temos 6 governadores e elegemos prefeitos de capital em 2016. Elegemos no total 804 prefeitos ano passado. Governadores e prefeitos precisam estar representados formalmente na Executiva.
Essa configuração daria mais força para o Geraldo Alckmin no partido? Tínhamos em tese três pré-candidatos: Aécio, Serra e Alckmin. Essa realidade mudou do ano passado para cá. Hoje o Alckmin desponta como candidato favorito para representar o PSDB em 2018.