Demóstenes tem amizade com bicheiro por 'questão de caráter', diz advogado

Senador é suspeito de receber dinheiro e favores de Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em GO

Por Bruno Lupion
Atualização:

SÃO PAULO - O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) reafirma a sua amizade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, por “uma questão de caráter”, disse nesta segunda-feira, 26, o advogado do parlamentar, Antônio Carlos de Almeida Castro, ao estadão.com.br. Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro em Goiânia pela Polícia Federal (PF) na Operação Monte Carlo por envolvimento no jogo do bicho e exploração de máquinas caça-níqueis.

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“Demóstenes e Cachoeira são amigos há bastante tempo. Mais de metade de Goiânia era amiga do Cachoeira e agora, depois desse episódio, aparecem os engenheiros de obra pronta que começam a dizer que não o conheciam. O Demóstenes, como demonstração de caráter, mantém sua posição desde sempre”, disse o advogado, conhecido por Kakay. Segundo ele, Demóstenes não desconfiava das atividades ilícitas do amigo. “O Cachoeira havia dito que tinha parado com qualquer atividade de contravenção e trabalhava atualmente com um laboratório”, disse.

Kakay define como uma “mentira deslavada” a informação, publicada pela revista Carta Capital, de relatórios da PF indicando que Demóstenes recebia 30% do faturamento de Cachoeira para alimentar caixa 2 destinado à sua futura campanha ao governo de Goiás. E cobra acesso aos inquéritos da PF a respeito de Demóstenes, que ainda não conseguiu analisar. “O senador é vitima de uma acusação sem rosto, é uma covardia. Isso não coaduna com o Estado Democrático de Direito”, afirma.

Leia a íntegra da entrevista:

Desde quando Demóstenes e Carlinhos Cachoeira se conhecem e qual a natureza da relação dos dois?

Eles se conhecem há bastante tempo, são amigos comuns. Aliás, mais da metade de Goiânia era amiga do Cachoeira e agora, depois desse episódio, aparecem os engenheiros de obra pronta, que começam a dizer que não o conheciam. O Demóstenes, como demonstração de caráter, mantém sua posição desde sempre. É amigo, tem uma relação pessoal, foi ao casamento dele. Todo mundo em Goiânia era amigo do Cachoeira, ele frequentava todas as rodas, era um cara querido. Uma pessoa me ligou de Anápolis dizendo que a cidade está consternada com a prisão dele, que todo mundo gosta dele. Hoje querem demonizar o cara, mas era uma pessoa querida no Estado.

O senador Demóstenes não desconfiava das atividades de Cachoeira com o jogo do bicho e máquinas de bingo?

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Não, o Cachoeira havia dito a ele que tinha parado com qualquer atividade de contravenção, que agora trabalhava com um laboratório, atividade lícita, tudo registrado.

Por que Demóstenes tinha um aparelho Nextel registrado nos EUA para falar exclusivamente com Cachoeira?

O Carlinhos veio do exterior com esse aparelho e disse ao Demóstenes: ‘quando você quiser falar comigo, fala diretamente nesse aparelho aqui, é um aparelho que eu trouxe para falar com alguns amigos’. Na época, não tinha nenhuma irregularidade, não chamou a atenção, eles falavam naturalmente. Depois que acontece isso, começam a questionar tudo. Era uma conveniência, mais para o Cachoeira do que para o próprio senador.

Além de uma geladeira, um fogão e um celular Nextel, o senador Demóstenes recebeu mais algum objeto ou dinheiro de Cachoeira?

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Que eu tenha conhecimento, não. E não converso com o senador sobre esses detalhes, que do meu ponto de vista são desimportantes do ponto de vista jurídico.

Ligações telefônicas grampeadas pela PF em 2009 mostrariam Demóstenes pedindo a Cachoeira que lhe custeasse despesas de táxi aéreo. Por que esse pedido?

Sobre grampos específicos, a defesa não irá falar. Estamos vivendo algo surreal, já fiz três pedidos pra ter acesso a esse inquéritos e não consegui vê-los. Estão ocorrendo vazamentos pontuais e criminosos e eu não sei se são de grampos que existem ou não existem. Nós não vamos falar de conversas que eu não sei se aconteceram ou não aconteceram. São vazadas conversas pontuais, de forma criminosa, e a única pessoa que não tem acesso é a defesa. O senador está querendo falar, precisa falar, mas é uma irresponsabilidade falar sobre algo que você não conhece. Quem disse que o teor da conversa é exatamente esse? Tem que contextualizar a conversa.

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Segundo reportagem da revista Carta Capital, relatórios do delegado da PF Deuselino Valadares dos Santos indicam que Demóstenes recebia dinheiro de Cachoeira para financiar campanhas eleitorais. Isso ocorreu?

É uma mentira deslavada. Eu ouvi dizer que colocaram isso na responsabilidade de um advogado chamado Ruy Cruvinel. Eu tenho uma declaração do advogado desse Ruy dizendo que a reportagem dizia que ele foi preso, e o advogado afirma que ele nunca foi preso nem nunca disse isso. E esse Ruy nem conhece o senador Demóstenes.

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