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Demora de Lula em reforma prejudica País, dizem analistas

Tentativa de abrigar aliados pode afetar aprovação de projetos e medidas do PAC

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Por Agencia Estado
Atualização:

A demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em anunciar a reforma ministerial pode prejudicar o próprio País e a governabilidade. A avaliação é dos cientistas políticos Carlos Alberto de Melo, professor do Ibmec, e Marco Antônio Carvalho Teixeira, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo. De acordo com os analistas, a tentativa de abrigar os partidos da base aliada nos ministérios pode afetar a aprovação das reformas e também das medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, segundo eles, a demora de Lula compromete o próprio funcionamento da máquina administrativa, pois atrasa a elaboração de projetos prioritários de cada pasta. Para Melo, a demora está provocando muita expectativa nos partidos aliados e, com isso, a pressão por um pedaço do bolo ministerial tende a crescer. "Lula está conseguindo a proeza de desagradar a todo mundo", diz o professor. "Há muitos famintos em torno do bolo e ninguém vai sair satisfeito". Governabilidade Segundo ele, a governabilidade almejada pelo governo Lula pode ser prejudicada antes mesmo da definição do novo ministério. "Daqui a pouco, o governo pode sofrer uma derrota em uma votação de interesse do próprio Executivo", afirma Melo. "Coloca-se em dúvida a governabilidade, como uma forma de dizer: é o presidente quem decide, mas ele tem de decidir logo." Carvalho Teixeira também concorda que o adiamento da reforma ministerial pode prejudicar a governabilidade. "Com a demora, a base aliada pode não demonstrar o vigor necessário para a aprovação e a realização dos projetos necessários ao desenvolvimento do País", diz o pesquisador. Economia Para os cientistas políticos, não há sinais de que a condução da política econômica brasileira vá mudar. Eles acreditam que as divergências entre o Ministério da Fazenda - que quer uma aceleração na queda dos juros - e o Banco Central (BC) - que se mantém conservador - devem continuar, mesmo depois da reforma ministerial. Segundo Melo e Carvalho Teixeira, enquanto os fluxos de capitais externos continuarem vindo e houver alguma distribuição de renda, o presidente vai continuar navegando nessa ambigüidade entre Ministério da Fazenda e BC. Articulação Os dois também acreditam que o principal motivo para o atraso na reforma ministerial é a falta de um articulador no governo Lula. E avaliam que a tarefa deveria ser realizada pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro (PT). "O próprio presidente tentou assumir a articulação e Genro ficou envolvido com as disputas internas do PT", diz Teixeira. Para o professor do Ibmec, essa lacuna pode ser preenchida, após a reforma, com a indicação de Walfrido dos Mares Guia (PTB), atual ministro dos Transportes, para a pasta de Integração Nacional. "O fato de Mares Guia não ser do PT é uma vantagem e uma desvantagem para o Ministério da Integração", explica Melo. "A vantagem é que ele acaba tendo maior confiança dos outros aliados e da oposição e a desvantagem é que ele não vai conseguir um diálogo mais natural com o PT". Alianças No segundo mandato de Lula, a base aliada aumentou para 11 partidos e ficou mais difícil para o presidente acomodar todos eles nos ministérios. Dentre os principais partidos para a governabilidade, Melo cita o PMDB e o PDT. "O governo deve, a partir do PMDB e PDT, formar um bloco bastante forte, e usar a força de atuação dessa maioria para conquistar adesão dos outros partidos", reitera. Carvalho Teixeira acredita que o PT vai ter de ceder espaço nessa reforma. "O PMDB quer aumentar sua cota e o governo já anunciou que vai fazer isso. Deve ganhar dois ou três ministérios à custa do PT. O PDT, que estava do outro lado na eleição passada, também deve aumentar seu espaço. Os outros partidos manterão suas cotas e o PT vai ter de ceder."

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