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Delúbio cede a pressão e desiste de volta ao PT

Ex-tesoureiro repete que nada fez sem consentimento da legenda

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

Pressionado por emissários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares - expulso na esteira do escândalo do mensalão, em 2005 - retirou ontem o pedido de reintegração ao partido. Logo no início da reunião do Diretório Nacional, Delúbio fez um discurso emocionado no qual destacou nada ter feito sem o consentimento da sigla. Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, disse que "começaria tudo outra vez" e insinuou que o caixa 2 é uma prática corriqueira entre os partidos. Íntegra do discurso de Delúbio no diretório nacional do PT "Do que me acusam?", perguntou. "Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?" Diante de uma plateia composta por antigos companheiros, o ex-secretário de Finanças deu a entender que há muita hipocrisia nessa discussão porque até hoje não se aprovou o financiamento público de campanha. "Não fui senão em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT", insistiu Delúbio, que leu um discurso a portas fechadas, por 20 minutos, e arrancou aplausos de seus apoiadores. Não foi só: antes de deixar a reunião, num carro blindado, tomou café com dirigentes do partido. Recebeu abraços e tapas nas costas. Delúbio resolveu se antecipar à decisão da cúpula petista e desistir do pedido de anistia ao perceber que seria derrotado. Sua reivindicação rachou o PT: ele não tinha apoio fechado nem mesmo em sua corrente, o antigo Campo Majoritário, rebatizado de Construindo um Novo Brasil. O ex-tesoureiro havia solicitado a reintegração ao PT porque pretende concorrer a deputado federal por Goiás, em 2010. Duas horas antes da reunião, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o líder na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), conversaram com ele e terminaram negociação iniciada há 20 dias, a pedido de Lula, para o recuo estratégico. Berzoini e Vaccarezza repetiram a Delúbio que tanto Lula quanto parte da cúpula petista achavam "inoportuno" o pedido de retorno. Mais: afirmaram que seu projeto de se refiliar ao PT às vésperas de um ano eleitoral reabria as feridas do mensalão no momento em que a candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, precisava se consolidar. O processo de "convencimento" também passou pelo Planalto. "Foi a noite de São Bartolomeu", resumiu o deputado André Vargas (PT-PR), referindo-se ao massacre de fiéis protestantes na França do século XVI. Delúbio disse não aceitar os argumentos dos que reconheciam seu direito de retornar ao partido, mas só após as eleições. "Por que 2011 se o Delúbio de hoje é o Delúbio de 1980 e será o Delúbio de amanhã?", provocou. Nos bastidores do PT, o comentário é que, agora, ele deve se filiar ao PMDB. Para Berzoini, Delúbio foi "vítima do processo que sedimentou um método de financiamento de campanha insustentável".

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