Delegado diz que PF vai até o fim com dossiê

Por FAUSTO MACEDO E FELIPE RECONDO
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O delegado Luiz Fernando Corrêa garantiu hoje que a Polícia Federal, da qual é diretor-geral, vai até o fim no inquérito do dossiê sobre gastos com cartões na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "A Polícia Federal não depende de garantia de ninguém", declarou Corrêa. "Ela (PF) quando instaura um inquérito, delimita o que vai apurar e vai até o fim na investigação. Isso não depende de garantia de ninguém, nem do chefe da PF, nem de ninguém." O inquérito foi aberto há 9 dias. Está sob presidência do delegado Sérgio Menezes, da Superintendência Regional da PF em Brasília. Corrêa afirmou que a PF não se submeterá à ingerência política do governo. "Pode ter certeza que não." O diretor-geral não disse, porém, se a PF está investigando apenas o vazamento ou também a construção do dossiê e quem o fez. Segundo ele, o delegado Menezes tem independência para tocar o procedimento. "Em nome da autonomia dele (Menezes), o que ele pensa e o que ele vai concluir, ele só tem uma certeza: a instituição vai garantir que ele execute o seu trabalho." Corrêa depôs durante quase 4 horas à CPI dos Grampos, na Câmara. O delegado revelou que desde 2007 a PF executou 48,2 mil interceptações telefônicas, com autorização judicial, em todo o País. Estão acumulados nos fóruns federais 210 novos pedidos de grampo. Ao final da exposição do diretor-geral, o deputado Raul Jungmann (PSDB-PE) reclamou que fez duas representações à PF, em 28 de março e 4 de abril, por meios das quais pediu abertura de inquérito para investigar divulgação de dados relativos aos cartões. Mas não obteve resposta, protestou. Jungmann questionou o delegado sobre a existência de suposta rede de dossiês. "O próprio ministro (Tarso Genro) disse que dossiê não é crime, vazar é crime, o senhor concorda com isso?" "O ministro responde pelo que ele fala, a Polícia Federal fala só através de inquérito", retrucou Luiz Fernando Corrêa. O deputado quis saber "qual a visão" do diretor sobre a versão governista de que a prática de dossiês não é crime, mas apenas banco de dados. "A minha visão, em razão do clamor em torno do inquérito, não vou lhe responder aqui", disse Corrêa. "O senhor há de compreender que é razoável a minha postura. É uma postura ética, inclusive em respeito a um colega meu (delegado Sérgio Menezes)." Jungmann não escondeu sua irritação, depois da audiência. Segundo ele, o relato do chefe da PF "satisfez pela não resposta". "Ele não tem a mesma percepção do governo no que diz respeito a dossiê", anotou o deputado. "Dossiê é crime sim, crime de responsabilidade, de abuso de autoridade pela manipulação de dados sem obediência à lei. Nesse sentido, o que foi produtivo no depoimento (de Corrêa) foi exatamente aquilo que foi inconclusivo." Para Jungmann, o Brasil vive à sombra de "um sistema de dossiês". Ele disse que o governo quer "chantagear, intimidar, coagir a oposição". "Os dossiês estão sendo produzidos não apenas na Casa Civil, mas em outros ministérios, o que é um degrau a mais rumo ao Estado policial", afirmou. "Nas duas vezes em que representei à PF não tive qualquer resposta. O diretor-geral dizia que não abria inquérito sob alegação de que não foi provocado. Mas eu provoquei duas vezes a polícia. Quando se abre o inquérito ele segue a linha de defesa do governo, ou seja, vamos investigar o vazamento e não o dossiê."

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