PUBLICIDADE

Delegado classifica de ''''falcatrua'''' retratação que inocenta Palocci

Para Valencise, que investigou o caso, não há dúvida de que Buratti e ex-ministro 'combinaram tudo'

Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo e Ricardo Brandt
Atualização:

"É uma verdadeira falcatrua", disse ontem o delegado Benedito Antonio Valencise, de Ribeirão Preto, ao avaliar os termos da retratação do advogado e empresário Rogério Buratti, que inocentou o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) por meio de declaração pública registrada no 14.º Tabelião de Notas de São Paulo. Para o delegado, que em 2005 indiciou Palocci no inquérito sobre a máfia do lixo em Ribeirão Preto - cidade que o ex-ministro administrou em duas ocasiões -, "não resta dúvida de que eles (Palocci e Buratti) combinaram tudo". Naquele ano, Buratti aderiu à delação premiada e jogou Palocci, hoje deputado (PT-SP), no centro de um escândalo sobre licitações supostamente fraudulentas. Ele denunciou mensalão de R$ 50 mil que teria sido pago pela empreiteira Leão & Leão ao petista na época em que comandou a Prefeitura de Ribeirão pela segunda vez, entre 2000 e 2002. Em junho do ano passado, Buratti se retratou, conforme o Estado revelou ontem. "São inverídicas as condutas atribuídas ao ex-ministro Antonio Palocci. Não é verdade que a Leão & Leão deu contribuição mensal de R$ 50 mil a Palocci." Para José Roberto Batochio, criminalista que defende Palocci, o episódio de Ribeirão "mais uma vez demonstra que a delação premiada consubstancia uma ferramenta de pressão que pode levar a injustiças clamorosas quando se quer perseguir alguém a qualquer preço". Batochio reiterou que "não existe um único indício de irregularidade na administração Palocci" e assegurou que o ex-ministro não tinha conhecimento da retratação de Buratti. "Se houver represálias a Buratti, com fabricação de novas acusações, vamos buscar a responsabilização com o máximo critério." MANOBRA "A retratação é brincadeira de mau gosto, manobra para tentar inocentar envolvidos em crimes, principalmente o ex-ministro", insistiu o delegado Valencise. "Ou eles (Buratti e Palocci)se compuseram ou (Buratti) está sendo coagido." Segundo o policial, tudo o que Buratti denunciou, em troca da liberdade, foi comprovado pelas investigações. "Buratti vinha depor e dizia que tinha medo de perseguições e retaliações, medo de ser assassinado. Ele depôs diversas vezes, mediante compromisso. Será ouvido em juízo e se negar o que revelou há quase três anos estará incorrendo em crime de falso testemunho." O inquérito do lixo está no Supremo Tribunal Federal. "Não pega essa história de intimidação que ele imputa aos promotores e à polícia", insiste Valencise. "Sempre se dispôs a colaborar, jamais foi pressionado. É muito cômodo, depois de mais de dois anos, falar em coação." "Essa declaração não tem valor", afirmou o promotor de Justiça Aroldo Costa Filho, da força-tarefa que investigou Palocci. "A palavra dele foi o início da investigação. Tudo está provado. A simples modificação da versão não vai alterar as provas sobre o esquema do lixo." "Essa manifestação é unilateral, não foi colhida na presença do Ministério Público", advertiu Aroldo. "Acredito que o STF não vai tomar decisão com base exclusivamente nessa declaração." Ele informou que Buratti está sob investigação também por lavagem de dinheiro e será intimado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.