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'Delatores fizeram o Brasil se olhar no espelho e não gostar do que viu', diz Wesley

Convocado pelo Senado, executivo da JBS disse que existe perseguição a colaboradores e se negou a responder perguntas de CPMI

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Por Renan Truffi e Bibiana Borba
Atualização:
Wesley Batista esteve no Senado para prestar depoimento à CPMI, mas invocou direito de permanecer calado. Foto:

BRASÍLIA - O sócio da JBS Wesley Batista disse nesta quarta-feira, 8, que colaboradores da Justiça brasileira estão sendo "punidos e perseguidos" por dizer a verdade. Detido há quase dois meses por suposta prática do crime de insider trading - uso de informação privilegiada para lucrar no mercado financeiro -, Wesley afirmou que as delações premiadas fizeram o País se "olhar no espelho" e não gostar do que viu.

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"Estamos vivendo um imenso retrocesso daquilo que esperava ser um profundo processo de transformação do País. As delações fizeram o País se olhar no espelho. Como não gostou do que viu, o resultado tem sido colaboradores presos e delatados soltos", afirmou.

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As declarações foram dadas à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, em sessão conjunta com a CPI do BNDES no Senado Federal. Antes de invocar o direito a permanecer calado, Wesley afirmou ainda que não se arrepende de ter colaborado com a Justiça, mas que descobriu que o processo é "imprevisível e inseguro".

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"Não é fácil, é solitário, dá medo e causa muita apreensão. Hoje, na condição em que me encontro, descobri que é um processo imprevisível e inseguro para quem decidiu colaborar. Mas continuo acreditando na Justiça brasileira." Depois do pronunciamento em tom de indignação, ele passou a usar o direito de ficar em silêncio a cada pergunta feita pelos parlamentares integrantes do colegiado.

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Direto a permanecer calado. "Neste momento, ficarei em silêncio principalmente pela complementaridade da minha colaboração, ainda sob análise da Procuradoria-Geral da República. Em um eventual depoimento sem autorização da PGR, eu poderia estar colocando em risco minha colaboração. Estou preso por um crime que jamais cometi. Tão logo essa situação seja resolvida, com autorização expressa da PGR, eu me comprometo a prestar todos e quaisquer esclarecimentos", disse.

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Os senadores tentaram insistir para que, diante de dezenas de repórteres e de câmeras da TV Senado que transmitiam ao vivo a sessão, o empresário aceitasse falar para se defender. O presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), chegou até a propor um depoimento em reunião fechada.

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Um dos advogados de defesa de Wesley, Ticiano Figueiredo, reafirmou que o 'imbróglio' atual não permitiria o depoimento. Diante da negativa, Ataídes decidiu manter o executivo no auditório e permitir que os parlamentares fizessem suas explanações sobre a corrupção na JBS.

"Parece que vamos ter mais uma sessão de banho de sol. Compreendemos o direito constitucional de não produzir provas contra si mesmo. Mas não consigo entender como o senhor pode perder a oportunidade de aqui, diante do povo brasileiro através de seus representantes, prestar esclarecimentos", disse o relator da CPMI, senador Roberto Rocha (PSB-MA).

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Irmãos Batista na cadeia. Wesley e seu irmão, Joesley Batista, sócios da JBS, estão presos desde o início de setembro. Os empresários foram detidos preventivamente na Operação Tendão de Aquiles por suposta prática do crime de insider trading, acusados de terem feito transações com dólares às vésperas da divulgação da delação, com o objetivo de lucrar com informações privilegiadas no mercado financeiro. Já sobre os pagamentos de propinas a políticos, os irmãos correm o risco de perder a imunidade que haviam garantido ao aceitar delatar aos investigadores da Lava Jato.