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Delação cita publicidade como propina a Aécio

Documentos comprovam venda de prédio para JBS que teria servido para dissimular dinheiro para senador; dono nega

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Foto do author Marcelo Godoy
Por Daniel Bramatti , Marcelo Godoy e Leonardo Augusto
Atualização:

Documentos obtidos pelo Estado comprovam a venda de prédio em Belo Horizonte que, conforme delação do empresário Joesley Batista, da JBS, teria como objetivo o repasse de recursos ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Na transação, a J&F Investimentos, controladora da JBS, comprou da Ediminas S/A – Editora Gráfica Industrial de Minas Gerais o imóvel e um terreno ao lado da construção por R$ 17.354.824,75.

Agentes da PF deixam casa de Aécio Neves, no Lago Sul, em Brasília, durante operação em 18 de maio Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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Ainda segundo Joesley, meses antes dessa operação, R$ 2,5 milhões dos cerca de R$ 60 milhões entregues a Aécio para a campanha presidencial de 2014 foram pagos por meio da compra antecipada de publicidade no jornal Hoje em Dia.

Documento assinado por um diretor do Grupo Bel – que controlava o jornal por meio da Ediminas S/A – atesta a compra de 365 páginas de publicidade pela JBS. Ele foi entregue por Joesley aos procuradores.

O criminalista Alberto Zacharias Toron, que cuida da defesa de Aécio, afirmou neste domingo, 21, que não se manifestaria sobre o caso e que só o fará oportunamente. As operações descritas por Joesley teriam servido para dissimular os pagamentos ao senador.

A Ediminas é proprietária do jornal Hoje em Dia, que funcionava no prédio. Além do registro da negociação em cartório, a reportagem teve acesso também a um recibo de quitação do pagamento da transação da J&F à Ediminas, que pertencia ao Grupo Bel, do setor de comunicação. A compra foi em 2015.

Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley afirmou que Aécio voltou a procurá-lo em 2015 pedindo dinheiro para pagar dívidas de campanha. No ano anterior, o tucano disputou a Presidência e já teria recebido R$ 60 milhões.

O sócio da JBS disse ter repassado R$ 17 milhões a Aécio por meio da compra superfaturada do prédio em Belo Horizonte, de propriedade de um aliado do senador. “Precisava de R$ 17 milhões e tinha um imóvel que dava para fazer de conta que valia R$ 17 milhões”, afirmou.

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O empresário apresentou documentos da compra do imóvel. No contrato registrado em 30 de novembro de 2015 no cartório em Pirapora do Bom Jesus, em São Paulo, da J&F com a Ediminas, as empresas declararam que Joesley pagou R$ 14 milhões pelo prédio – uma entrada de R$ 4 milhões e dez parcelas de R$ 1 milhão. Uma primeira parcela de R$ 4 milhões não está nesse contrato.

Conforme Joesley, Aécio indicou o imóvel como forma de receber propina. Questionado se a venda fora superfaturada, Joesley disse: “Sem dúvida. Não estávamos atrás de comprar um prédio em Belo Horizonte”.

Ediminas. O dono da Ediminas à época da negociação, Flávio Jacques Carneiro, negou irregularidades na venda do prédio. “Fiquei sabendo disso pela televisão. Vamos demonstrar que é mentira. O imóvel foi vendido para pagar bancos, fornecedores e funcionários.” Carneiro disse ser amigo de Aécio e ter boa relação com Joesley.

O ex-dono da Ediminas afirmou que o imóvel tinha preço baixo e que a J & F Investimentos possuía “um fundo bilionário”. Na delação, Joesley declarou não saber como o dinheiro chegou às mãos do senador afastado e disse que pediu a Carneiro que solicitasse a Aécio, “pelo amor de Deus”, que ele parasse de lhe pedir dinheiro.

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A primeira entrada de R$ 4 milhões foi paga em 28 de setembro de 2015. A segunda parcela, de R$ 4 milhões, foi repassada em 28 de outubro. A terceira, de R$ 1 milhão, foi quitada em 30 de novembro. Os nove pagamentos restantes, no valor de R$ 1 milhão cada, foram quitados em fevereiro de 2016, com desconto de R$ 18 milhões para os R$ 17.354.824,75. O recibo de quitação registra que foi aplicada “taxa de desconto financeiro acordada entre as partes”.

Mudança. A Ediminas pertence atualmente ao ex-prefeito de Montes Claros Ruy Muniz, marido da deputada Raquel Muniz (PSD-MG). O jornal Hoje em Dia estudou seguir no prédio comprado pela J&F, mas, segundo o diretor do jornal, Tiago Muniz, a empresa decidiu se mudar e agora ocupa imóvel na zona oeste de Belo Horizonte.

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