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Delação aguça instinto de sobrevivência do PMDB e aproxima Temer e Renan

Desde o início da semana, senador vinha demonstrando descontentamento com a condução de ações do governo Temer

Por Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - A divulgação do teor da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado aguçou o instinto de sobrevivência de integrantes da cúpula do PMDB e serviu para impulsionar um movimento de reaproximação entre o presidente em exercício, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

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Desde o início da semana, o senador vinha demonstrando descontentamento com a condução de ações do governo realizadas por Temer. Em declarações públicas, Renan chegou a defender, por exemplo, que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos gastos públicos fosse anunciada apenas após o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, previsto para ser julgado somente em agosto.

O posicionamento de Renan ocorreu na véspera da apresentação da proposta pela equipe do governo, ocorrida nesta quarta-feira, 15, no Palácio do Planalto. A PEC é considerada como uma das principais cartas na manga do governo Temer para tentar conquistar credibilidade junto ao mercado financeiro e agentes econômicos, que até agora vêm com desconfiança as medidas previstas para retomar o crescimento da economia do País.

O presidente em exercício,Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros Foto: Dida Sampaio|Estadão

Na avaliação de auxiliares do Palácio do Planalto ouvidos pelo Estado, as declarações desta quinta-feira, 17, de Renan de que “nunca esteve tão próximo de Temer”, um dia após vir a público o conteúdo da delação de Machado, demonstra que o peemedebista busca afinar a relação com a cúpula do governo. Como pano de fundo do gesto estaria uma tentativa de Renan para obter apoio do Palácio para se blindar de um possível processo de perda de mandato, no Conselho de Ética do Senado. “A melhor chance do Renan em evitar uma cassação é ele se ligar no governo. E o presidente Temer sabe que também precisa dele como presidente do Senado”, considerou um auxiliar palaciano próximo de Temer. Um possível processo de impeachment contra Temer passa obrigatoriamente pelas mãos de Renan.

Um encontro entre o presidente em exercício e o senador ocorreu na véspera da divulgação da delação de Machado, em jantar realizado no Palácio do Jaburu. Integrantes do Palácio do Planalto negam que na ocasião a cúpula do governo tinha conhecimento do conteúdo da delação de Machado. A pessoas próximas, Temer se limitou a dizer que a conversa com Renan foi “boa”.

Tanto ele quanto senador são citados por Machado como beneficiários do esquema de desvio que teria ocorrido na Transpetro durante a gestão do ex-dirigente. Temer teria pedido a Machado R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita - na época no PMDB - à Prefeitura de São Paulo. Já o senador, teria recebido um total de R$ 32 milhões em propina. Ambos negam a participação no esquema.

Pronunciamento – Os desgastes com a divulgação do conteúdo da delação levou Temer a realizar um pronunciamento à imprensa na manhã desta quinta, no Palácio do Planalto, mesmo após ter soltado nota negando qualquer envolvimento no esquema revelado por Machado, na delação.

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Segundo relatos, pesou na decisão de Temer em falar pessoalmente com a imprensa o fato de o noticiário ter sido “bastante negativo”, em que as manchetes dos principais jornais expuseram como elemento principal uma possível ligação dele com desvios ocorridos na Transpetro.

Internamente, auxiliares de presidente em exercício defendem que ele é um personagem menor, uma vez que não há detalhes na delação de Machado, nem a confirmação de que houve a entrega do dinheiro para a campanha de Chalita.

Ao longo desta quinta-feira, a equipe de auxiliares do presidente em exercício irá monitorar a repercussão das declarações de Temer, que classificou as declarações de Machado como “levianas e mentirosas”.

Um pronunciamento à Nação, previsto para ocorrer nesta sexta, 18, em que Temer deverá tratar das “obras inacabadas” do governo Dilma, ainda não está descartado, mas vai depender dos desdobramentos políticos das revelações de Machado.

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