Defesa diz que buscas por ossadas no Araguaia foram interrompidas por chuvas

Nesta semana, parentes de um militante encontraram restos humanos em um dos locais do conflito

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Por Redação
Atualização:

O Ministério da Defesa informou nesta quinta-feira, 18, que as buscas de restos mortais na região do Araguaia, iniciadas no ano passado pelo Grupo de Trabalho Tocantins, foram suspensas por causa do período de chuvas na região. Nesta semana, parentes de um militante que atuou na Guerrilha do Araguaia e uma equipe do Ministério Público Federal encontraram restos humanos na localidade de Brejo Grande do Araguaia, um dos locais do conflito no Pará.

 

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De acordo com o MPF, as ossadas foram encontradas a cerca de 30 metros do local que estava sendo escavado pela missão coordenada pela Defesa, em outubro do ano passado. O grupo de trabalho não conseguiu encontrar nenhuma ossada. O Ministério da Defesa informou ainda que havia a previsão de retomada das escavações nos próximos meses e que o órgão está no aguardo de orientações da Justiça Federal que determinou que a União realizasse a busca.

 

A região é conhecida como Tabocão, fica a 90 quilômetros de Marabá e sempre foi apontada como possível área de enterros de guerrilheiros mortos durante os combates na década de 70. Em depoimentos no MPF, moradores de Brejo Grande informaram que as escavações da Operação Tocantins foram feitas em pontos incorretos.

 

As ossadas foram encontradas depois que familiares do guerrilheiro Antônio Teodoro de Castro, que usava o codinome Raul na guerrilha, conversaram com um informante, que não quer se identificar, nem falar com as autoridades. Ele apontou vários locais onde poderiam estar sepultados corpos de guerrilheiros.

 

De acordo com o MPF, foram encontrados pedaços de crânio, dentes e restos de tecidos no ponto exato apontado pelo informante. O MPF informou ainda que existe a suspeita de que as ossadas encontradas podem pertencer aos guerrilheiros Pedro Carretel (Carretel), Rodolfo de Carvalho Troiano (Manoel do A), Gilberto Olímpio Maria (Pedro) e Maurício Grabois (Mário).

 

Após identificarem o local apontado, na terça-feira, 16, o procurador da República no Pará, Tiago Modesto Rabelo, pediu apoio da Polícia Federal (PF), do Instituto de Perícias Científicas do Pará e do Instituto Médico Legal de Marabá para o resgate das ossadas. Quatro peritos, dois agentes da PF e dois técnicos do MPF acabaram encontrando mais restos humanos. Todo o material encontrado foi levado para a sede do MPF no Pará e será encaminhado ao Instituto Médico Legal em Marabá.

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Os agentes e peritos da PF também estão preparando um relatório com fotos das ossadas encontradas. Depois de concluída essa fase do trabalho, as ossadas serão encaminhadas para Brasília, onde passarão pelo processo de identificação.

 

Combatida pelo Exército, a Guerrilha do Araguaia foi um movimento de resistência ao regime militar (1964-1985) organizado pelo PCdoB na primeira metade da década de 70. No ano passado, ao formar o Grupo de Trabalho Tocantins, o Ministério da Defesa não incluiu a participação dos familiares nos trabalhos que contaram com o apoio técnico do Exército.

 

Na época, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deu uma explicação jurídica para não admitir a presença dos familiares nas buscas. Disse que os familiares não poderiam ser admitidos no grupo porque são parte do processo e, portanto, não devem participar da execução da sentença. Essa posição causou desconforto na Esplanada dos Ministérios. O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), defendeu a inclusão dos familiares como forma de garantir a transparência dos trabalhos. A questão teve que ser resolvida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que garantiu a presença dos parentes de mortos e desaparecidos políticos na missão por meio de um decreto.

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