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Cabral tentou intermediar venda de empresa por interesse público, diz executivo

Juiz Bretas também está ouvindo testemunhas de defesa de Adriana Ancelmo

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, ouviu nesta quarta-feira, 5, o executivo da empresa de carnes JBS Gilberto Tomazoni, arrolado pela defesa do empresário Luiz Alexandre Igayara. Um dos sócios-controladores da Frangos Rica, Igayara é acusado de lavar dinheiro do esquema de corrupção liderado pelo ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB).

Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro Foto: Rodrigo Félix/Estadão

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As investigações mostraram que Cabral tentou intermediar a compra da Rica pela JBS, em 2014. O negócio já havia sido descartado pela empresa, uma vez que as partes não haviam entrado em consenso quanto ao valor que a Rica valia. Tomazoni disse que o ex-governador alegou interesse do Estado na transação. O negócio, segundo ele, seria uma forma de ajudar na recuperação financeira da Rica, empresa local que gera empregos e que estava falindo (atualmente encontra-se em recuperação judicial).

“O negócio apresentado para nós seria de interesse do Estado. Como todos os estados fazem. Há sempre interesse, porque a avicultura é uma atividade que gera nível de emprego grande. (O objetivo de Cabral) foi essa reaproximação e tentar ver se tinha como as empresas fazerem negócio, o que acabou não ocorrendo”, declarou Tomazoni.

O executivo disse que o contato de Cabral foi com Joesley Batista, um dos controladores da JBS. “Joesley falou que parecia que a Rica estava em outo momento, que o ex-governador Cabral o procurou e disse que seria importante para o Rio de Janeiro desenvolver a atividade de frango. Assim foi feito. Visitamosa operação dele (Igayara) e novamente o negócio não se mostrou viável.”

Em novembro, Igayara foi conduzido coercitivamente a depor no âmbito da operação Calicute da Polícia Federal, cujo alvo principal foi Cabral. Para tentar provar que ele não lavou dinheiro para o ex-governador, a defesa tenta arrolar como testemunha o advogado Thiago Aragão, ex-sócio de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral. O juiz Bretas indeferiu a convocação.

Testemunhas de defesa. O juiz também ouviu testemunhas de defesa da ex-primeira-dama do Rio, Adriana Ancelmo, acusada de integrar o esquema de corrupção chefiado pelo marido. São dois advogados com quem ela atuou chamados para demonstrar que seu escritório de advocacia, Ancelmo Advogados, prestava serviços de advocacia em casos de grande porte. 

Nesta manhã, já prestou esclarecimentos o advogado Cristiano Zanin Martins, que trabalhou com Adriana em 2015 e 2016 tendo como cliente a Federação do Comércio do Rio (Fecomércio-RJ). Ele disse que se reunia com Adriana e representantes de outros escritórios envolvidos nas causas da entidade, de ordem empresarial e sindical, com regularidade. As reuniões eram no escritório dela, que fica no centro do Rio. Martins ganhou notoriedade por integrar a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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O objetivo da defesa é demonstrar que o escritório de Adriana não era de fachada. Mais tarde será ouvido o advogado Marcelo Rossi Nobre, que também trabalhou com ela. O sistema é por videoconferência, uma vez que Martins está em São Paulo e Nobre, em Brasília.

Adriana ficou três meses presa no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, e há uma semana cumpre prisão domiciliar em seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio. Cabral segue preso em Bangu desde novembro do ano passado.

Acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e pertencimento a organização criminosa, a ex-primeira-dama recebeu o benefício graças a uma norma do Código de Processo Penal que permite a mudança de regime de mulheres que tenham filho de menos de 12 anos e estejam cumprindo prisão preventiva. Adriana tem dois filhos, de 11 e 14 anos.

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A JBS emitiu a seguinte nota sobre o caso:

“A JBS implementou nos últimos anos estratégia de aquisição de várias empresas. Maior processadora de frango do estado do Rio de Janeiro, a Rica foi uma das empresas avaliadas pela JBS em 2015. A Companhia decidiu não seguir adiante na aquisição por razões comerciais, após avaliação feita pelos executivos da JBS diretamente com a Rica. A oportunidade do negócio foi apresentada a Joesley Batista, sócio controlador da JBS, pelo ex-governador Sergio Cabral, quando este já não ocupava nenhum cargo público. O ex-governador não atuou como agente, intermediário ou corretor na negociação. Seu papel foi unicamente o de alguém que apresentou uma empresa de seu estado como uma potencial oportunidade de aquisição.”

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