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Dedos apontados contra o etanol estão sujos de óleo, diz Lula

Presidente abre conferência da ONU sobre alimentos com defesa dos biocombustíveis e ataque aos subsídios

Por Lisandra Paraguassu
Atualização:

"Vejo com indignação que muitos dos dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão. Vejo com desolação que muitos dos que responsabilizam o etanol - inclusive o etanol da cana-de-açúcar - pelo alto preço dos alimentos são os mesmos que há décadas mantêm políticas protecionistas, em prejuízo dos agricultores dos países mais pobres e dos consumidores de todo o mundo", disse presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira, 3, na Conferência de Alto Nível do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).   O presidente abriu seu discurso de 30 minutos na manhã desta terça, em Roma, com um duro ataque aos subsídios agrícolas impostos pelos países desenvolvidos e voltou a insistir no potencial dos biocombustíveis. Ele foi o segundo a falar na plenária dos chefes de Estado e governo e classificou de "uma burla" e uma "cortina de fumaça" as tentativas de associar a alta de alimentos com a produção de etanol.   Veja também: Entenda a crise dos alimentos  Preço do petróleo em alta  Presidente promete 'guerra necessária' pelo etanol ONU pede que produção de alimentos seja duplicada até 2030 Biocombustíveis ameaçam terras de camponeses, diz relatório Crise alimentar não atingirá o Brasil, diz representante da FAO Saiba mais sobre a crise mundial dos alimentos   "É com espanto que vejo tentativas de criar uma relação de causa e efeito entre os biocombustíveis e o aumento dos preços dos alimentos. É curioso: são poucos os que mencionam o impacto negativo do aumento dos preços do petróleo sobre os custos de produção e transporte dos alimentos. Esse comportamento não é neutro nem desinteressado", acusou Lula.   O presidente considera a crise atual basicamente uma crise de distribuição, com várias causas adjacentes, entre eles a alta do petróleo, além dos subsídios, que acusou de "atrofiar e desorganizar" a produção em outros Países.   Durante o discurso, Lula cobrou a eliminação de "práticas desleais que caracterizam a prática agrícola". "Os subsídios criam dependência, desmantelam estruturas produtivas inteiras, geram fome e pobreza onde poderia haver prosperidade. Já passou da hora de eliminá-los", afirmou.   O presidente também propôs uma "globalização da agricultura", nos moldes em que os Países desenvolvidos tanto se empenham em ter na produção industrial. "Precisamos reformular visões, reciclar idéias. A globalização, que se instalou de maneira tão ampla na indústria, precisa chegar à agricultura", cobrou.   Amazônia   Para responder às acusações, Lula exibiu dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, para não usar dados brasileiros, mostrando que toda a cana-de-açúcar brasileira está concentrada em apenas 2% da sua área agrícola e apenas a metade disse é usado para etanol. O restante é usado em açúcar. "Há críticos ainda que apelam para um argumento sem pé nem cabeça: os canaviais no Brasil estariam invadindo a Amazônia. Quem fala uma bobagem dessas não conhece o Brasil", criticou.   "A Região Norte, onde fica quase toda a Floresta Amazônica, tem apenas 21 mil hectares de cana, o equivalente a 0,3% da área total dos canaviais do Brasil. Ou seja, 99,7% da cana está a pelo menos 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica. Isto é, a distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma que existe entre o Vaticano e o Kremlin. Em suma, o etanol de cana no Brasil não agride a Amazônia, não tira terra da produção de alimentos, nem diminui a oferta de comida na mesa dos brasileiros e dos povos do mundo".   Bom etanol X mau etanol   Lula, no entanto, se uniu às críticas ao etanol americano, feito de milho, e que tem sido apontado como o possível maior vilão da alta de preços, já que tem sido desviado da produção alimentar para os combustíveis. "É evidente que o etanol do milho só consegue competir com o etanol de cana quando é anabolizado por subsídios e protegido por barreiras tarifárias", disse.   "O etanol da cana gera 8,3 vezes mais energia renovável do que a energia fóssil empregada na sua produção. Já o etanol do milho gera apenas uma vez e meia a energia que consome. É por isso que há quem diga que o etanol é como o colesterol. Há o bom etanol e o mau etanol. O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios".

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