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Déda prega ''''despaulistização'''' do partido

Marcelo Déda: governador de Sergipe. Governador critica ‘abordagem provinciana’ da política e diz que partido precisa ecoar a diversidade brasileira

Por Alexandre Rodrigues e ARACAJU
Atualização:

O governador de Sergipe, Marcelo Déda, assim como seu compadre Lula (padrinho de uma de suas filhas), gosta de metáforas. Na última quarta-feira, numa solenidade em Aracaju, comparou a verdade ao sol. "Pode haver um eclipse, mas, como a luz do sol, a verdade sempre aparece." Ao receber o Estado, o petista confirmou sua fé de que a verdade sobre o que levou petistas como José Dirceu às barras do Supremo Tribunal Federal brilhará, nem que ela seja produzida pelo julgamento. Aos 47 anos, ele brinca com o fato de ser classificado como liderança emergente do PT - "somos eu e a Barra da Tijuca" - e prega a "despaulistização" do partido. Esse foi o primeiro congresso do PT no poder e depois da crise de 2005. Que partido o sr. viu? Independente do mérito das resoluções, houve um esforço sincero para reduzir o espaço do conflito entre as forças que compõem o PT e produzir uma negociação para um grau de unidade necessário para os desafios que o partido enfrenta agora, sejam os do governo Lula, os das eleições municipais ou o de chegar forte e influente no processo sucessório de 2010. É um grande desafio para o PT fazer o sucessor de Lula, liderando a chapa? É um desafio para qualquer partido fazer o presidente. Eu diria que o desafio do PT é menor. Indiscutivelmente, o PT é o partido principal da coalizão. Mais do que herdeiro das realizações, o PT é o inspirador político, o formulador principal do processo que levou Lula à Presidência e dos resultados, especialmente no campo social. O PT não pode se furtar a disputar esse legado e a se afirmar como o partido do Lula. O sr. foi a favor da resolução pela candidatura própria em 2010? Não vejo por que antecipar o cardápio do jantar no café da manhã. É claro que o mérito da resolução é correto. Seria um absurdo, uma negação do próprio caráter político, se o partido do presidente Lula, num gesto de filantropia, dissesse que desiste de indicar o candidato à sucessão dentro da coalizão. Seria um gesto de ingenuidade política, de suicídio eleitoral. Minha divergência não é de conteúdo. O PT afirmar que quer fazer o sucessor do presidente é mais do que um direito, é um dever. O que o sr. diz é que não precisaria colocar isso no papel agora? Eu não achei correta a resolução. Ela formaliza, antecipa uma agenda contraproducente para o próprio partido que está no governo e para o presidente. Para o senhor, o futuro do PT é menos paulista? Eu espero, milito e trabalho para isso. Não porque desconsidere São Paulo. Defendo que São Paulo tenha seu exato tamanho, que é extraordinário. Nenhum partido será nacional sem reconhecer o peso e a dimensão exata de São Paulo. O que eu combato é o paulistismo ou a paulistização, que é - sei que isso vai irritar os paulistas vindo de um nordestino - uma abordagem provinciana da política. Eu já testemunhei encontros nacionais pautados por um ajuste de contas entre correntes internas paulistas que termina influenciando o debate de todos os diretórios do País. O Brasil é muito mais complexo do que São Paulo. O PT está hoje em todo o País. E essas novas vozes, que se encontram representadas em governadores como eu, Wellington Dias (Piauí), Jaques Wagner (Bahia), Ana Júlia (Pará), ou prefeitos como Fernando Pimentel (Belo Horizonte), precisam ser incorporadas e ter seu peso devidamente levado em conta na vida interna do PT. O PT precisa ecoar a sadia diversidade brasileira. A desigualdade regional é um dilema brasileiro que não pode ser incorporada à prática partidária. São Paulo tem candidatos importantes que têm que ser levados em consideração. Não é inteligente discutir um nome sem pensar em Marta Suplicy, Eduardo Suplicy ou Aloizio Mercadante. O que quero é que ao lado desses nomes se avalie o do companheiro Wagner, de Patrus Ananias, de Dilma Rousseff. Discursando no congresso, o presidente Lula disse que há partido igual, mas não mais ético do que o PT. A ética ainda pode ser uma bandeira do partido? Sim. Se eu admitisse que não, teria que questionar a minha própria militância no partido e na vida pública. Se é verdade que o partido sofreu um drama terrível ao ser posto em xeque justamente diante da ética, é verdade também que as condutas individuais não podem ser debitadas na conta de quase um milhão de militantes. Talvez o que tenha mudado é que nós descobrimos que também somos vulneráveis. Talvez, em um certo momento da nossa vida, o partido se sentiu a palmatória do mundo e se armou de uma santa arrogância. Sem a reforma política, como evitar que o PT cometa os mesmos erros, como o caixa 2? Os dramas que o PT está vivendo se devem ao fato de que não tínhamos anticorpos tão fortes assim para as práticas que já eram comuns nos outros partidos. Isso não justifica, mas nos permite examinar com maior amplitude a situação política. Lamento ainda irmos para a eleição dependendo de financiamento privado, de coligações menos programáticas do que deveriam ser, tendo depois que construir governabilidade não em cima de um programa, mas em vantagens, prestígio político, só me referindo à parte boa. A reforma política não poderia ter sido liderada pelo próprio presidente? O problema é que ele seria tachado imediatamente de autoritário, seria logo acusado de querer o terceiro mandato. Então o presidente foi cauteloso. Talvez essa cautela tenha tirado velocidade e a profundidade da reforma, mas ele adotou uma posição que considero adequada, evitando que o tema virasse mais um ponto da disputa entre governo e oposição. O PAC da democracia seria a reforma política, só que esse não pode ser rubricado pelo presidente. Tem que ser fruto do esforço coletivo dos partidos e da própria sociedade civil. Quem é: Marcelo Déda Tem 47 anos. Foi deputado estadual, deputado federal e prefeito de Aracaju. Foi eleito governador de Sergipe no ano passado Integrante do grupo que, com o ministro Tarso Genro, pediu a refundação do PT

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