07 de setembro de 2009 | 19h23
Os 36 aviões de caça Rafale que serão adquiridos pelas Forças Armadas brasileiras custarão entre € 3 bilhões e € 4 bilhões, dependendo do pacote tecnológico e dos armamentos que acompanharão as aeronaves. Para a Dassault, o início das negociações, que devem ser concluídas até 2010 - com a entrega de um primeiro aparelho em 2013 - representa não apenas uma grande venda em meio à crise do setor aeronáutico, mas o fim de 20 anos de negociações frustradas para a exportação dos caças franceses.
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O anúncio em nota oficial emitida em Brasília nesta segunda-feira,7, foi celebrada em Paris como vitória praticamente certa sobre os rivais Saab, fabricante sueco do Gripen NG, e Boeing, projetista americano do F/A-18 Super Hornet, ambos até agora na disputa pelo contrato FX-2.
"Se o presidente brasileiro anuncia sua decisão de negociar a compra dos Rafale, nós passamos a acreditar que essa venda de fato acontecerá", afirmou ao Estado Yves Robins, diretor de Relações Exteriores da Dassault em Paris, sem confirmar as cifras.
O anúncio poderia ser celebrado em 23 de outubro, que marca os 103 anos do primeiro voo de Santos Dumont com o 14 Bis, no campo de Bagatelle, na capital francesa. A companhia, contudo, é mais cautelosa e aposta em vários meses de discussões com o Ministério da Defesa do Brasil. "Estimamos que o negócio pode ser concluído em 2010."
Será necessário definir os termos da parceria que a Dassault será obrigada a forjar com empresas brasileiras, como a Embraer - da qual tem participação.
Alívio financeiro
A venda representa alívio financeiro para a companhia. A Dassault enfrentava os efeitos da crise do setor aeronáutico militar. Em abril, a companhia reconheceu que em caso de persistência da recessão seria obrigada a implantar um plano de demissões voluntárias a partir de setembro, reduzindo seu efetivo de 8,2 mil funcionários - pela primeira vez desde 1990.
A supressão de postos de trabalho também tinha relações com a dificuldade da Dassault de emplacar o Rafale no exterior, projeto que já supera os 20 anos. Todos os esforços para vender os jatos a países como Marrocos e Índia foram em vão.
"O anúncio brasileiro é importante porque reforça a credibilidade do Rafale no mercado exterior", reconheceu Robins.
Helène Masson, especialista em indústria bélica da Fundação para a Pesquisa Estratégica, de Paris, lembra que a falta de vendas do caça não gerava crise, mas "uma pressão" sobre a companhia, criando dúvidas sobre a manutenção dos escritórios de projeto e sobre parte das usinas da empresa. "O Brasil é o primeiro cliente que a Dassault procurava havia muito tempo. Hoje (segunda) é uma data chave para a empresa, pois será estratégico para o planejamento da companhia em longo prazo."
O eventual sucesso da parceria com empresas brasileiras também pode alavancar projetos em curso da companhia.
Segundo Helène, a perspectiva de que um novo Rafale, 100% francês, seja construído é remota, diante da diluição de custos obtidas por outros países, como Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, que investem no Eurofighter Typhoon. "Associar-se a outros países, que não os europeus, na produção de novos aviões militares pode ser uma estratégia útil à companhia", diz a especialista.
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