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Damares exonera aliado de Osmar Terra responsável por contrato suspeito da Cidadania

Paulo Roberto de Mendonça e Paula assinou contrato de R$ 7 milhões com empresa de tecnologia suspeita de ser usada como laranja; ele é aliado de Osmar Terra, demitido do comando da pasta

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Por Patrik Camporez
Atualização:

BRASÍLIA - A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, exonerou ontem Paulo Roberto de Mendonça e Paula, responsável por assinar um contrato de R$ 7 milhões com uma empresa de tecnologia suspeita de ser usada como laranja para desviar dinheiro dos cofres públicos. Mendonça é aliado do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que perdeu o emprego no Ministério da Cidadaniaapós as revelações do Estado.  

O desligamento ocorre um dia depois de o Estado mostrar que, apesar de Terra ter afirmado que demitiu toda a equipe responsável por contratar a Business to Technology (B2T) no Ministério da Cidadania, quatro funcionários continuavam com cargos no governo. A pasta que era comandada por Terra fez a contratação mesmo após alertas feitos por duas empresas concorrentes e por órgãos de controle sobre suspeitas de irregularidades envolvendo a B2T.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Na semana passada, a empresa foi alvo da Operação Gaveteiro, da Polícia Federal, que investiga o desvio de R$ 50 milhões do extinto Ministério do Trabalho entre 2016 e 2018, na gestão de Michel Temer.

Segundo publicação no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 14, a saída de Mendonça do cargo de subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração foi a pedido dele. Ele foi para o ministério de Damares em novembro, após ser exonerado do cargo que ocupava no Ministério da Cidadania.

A ligação de Mendonça com os emedebistas vem do governo anterior, de Temer, quando, em 2016, Terra o chamou para compor a equipe do antigo Ministério do Desenvolvimento Social (rebatizado de Cidadania na gestão de Jair Bolsonaro). O agora ex-subsecretário costumava dizer nos corredores da Esplanada, contam servidores, que fora indicado para o cargo pelo então secretário executivo Alberto Beltrame, hoje secretário de Saúde no governo do Pará, comandado pelo também emedebista Helder Barbalho.

No Ministério das Mulheres, Mendonça acabara de montar uma equipe de sua confiança para coordenar as contratações de empresas privadas. O cargo era equivalente ao que exerceu por três anos com a confiança de Terra – o de Subsecretário de Assuntos Administrativos – e lhe garantia a mesma remuneração R$ 13,6 mil.

Dois dias antes da exoneração por Damares, Mendonça não tinha mais compromissos oficiais. A última reunião que participou, na terça-feira, dia 11, discutiu orçamento de 2020 com os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário.

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Ao ser procurado na sexta-feira da semana passada, por telefone, o agora ex-subsecretário chegou a afirmar ao Estado que não tinha mais qualquer vínculo com o governo. A exoneração, porém, só foi publicada uma semana depois. Novamente procurado ontem, não atendeu.

As suspeitas que recaem sobre Mendonça não são novas nos meandros da administração. Uma funcionária de carreira e uma pessoa próxima ao ex-subsecretário, ouvidas pela reportagem, destacam a proximidade dele com as empresas prestadoras de serviços ao governo federal e afirmam que ele costumava ordenar aos subordinados que recebessem os empresários determinados por ele para falar sobre contratos.

Experiência em contrarações

A fama de conhecedor da burocracia das contratações vem desde o período em que Mendonça foi do Exército, em que chegou à patente de coronel. Ele atuou por cinco anos do Estado Maior da Força no setor que cuida de suprimentos, além de chefiar as áreas financeira e administrativa.

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A experiência chamou a atenção da equipe de Terra, que o convidou para o cargo no governo, e chegou aos ouvidos de empresários interessados nas compras públicas. Logo tornou-se um homem de confiança do então ministro e aproximou-se de parlamentares do partido.

O motivo de ter saído da pasta de Terra para a de Damares ainda é obscuro. Ele afirma que pediu afastamento por vontade própria, a exemplo da exoneração publicada nesta sexta-feira.

Mendonça afastou-se do dia a dia da Cidadania, mas mantinha contatos na pasta. O amigo e advogado Marcos Vinícius Boaron, por exemplo, continuou no cargo de diretor de programa. Boaron era uma espécie de braço-direito do subsecretário.

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Quem é Mendonça

Quem conviveu com Mendonça diz que ele é discreto. Coronel da reserva do Exército, ele recebe cerca de R$ 9 mil pelas Forças Armadas, que eram complementados com outros R$ 13 mil da função de confiança desempenhada no governo federal até ontem.

A família mora em uma casa própria com piscina e sauna, num condomínio fechado da capital federal. Possui também um apartamento no Sudoeste, um dos bairros com metro quadrado mais valorizados da cidade.

Em 2016, quando assumiu seu primeiro cargo no governo, comprou dois veículos que, somados, têm custo estimado de R$ 275 mil.