PUBLICIDADE

Da rua para a internet, cresce ativismo on-line no País

PUBLICIDADE

Por MEL BLEIL GALLO
Atualização:

Salvar árvores, barrar licitações obscuras, preservar a cultura local ou, até mesmo, acabar com a corrupção. Não é só nas ruas que os cidadãos têm reivindicado mudanças: com as petições virtuais, em apenas um clique todo mundo pode dar o recado aos governantes. Cada vez mais, a ferramenta tem atraído o interesse dos internautas brasileiros e alcançado vitórias concretas. No Brasil, o número de participantes subiu 646%, em 2013, na Change.org, uma das maiores plataformas de abaixo-assinados on-line. Ao todo, são 1,5 milhão de usuários brasileiros, em meio aos 50 milhões de cadastrados. Os dados põem o País em 9º lugar no ranking mundial.O crescimento está diretamente relacionado às manifestações deste ano, afirma a diretora de Campanhas da Change.org no Brasil, Graziela Tanaka. "O aumento surpreendente do mês de junho tem a ver com o momento de tomada de poder vivido pela população. O Brasil realmente está passando por uma transformação política, com espaço para um novo protagonismo. Chegamos a um milhão de usuários em oito meses, enquanto a média de tempo nos outros países é de um ano." Entre os temas que mais interessam aos usuários da plataforma, estão a corrupção, direitos humanos, dos animais e do consumidor - planejamento urbano é a área que mais alcançou vitórias, destaca Graziela, em entrevista ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.Outra plataforma que também cresceu neste ano foi a Avaaz. Desde junho, já se cadastraram mais de 2 milhões de novos membros em português - dos quais a maioria é brasileira. O aumento representa quase 35%, comparado com o período anterior às manifestações. O site funciona com petições propostas pela equipe e outras apresentadas pela comunidade, de forma independente. Desde junho de 2012, mais de 35 mil petições já foram criadas na plataforma, só no Brasil, segundo dados da plataforma."Embora eu não possa fazer essa associação automática com as marchas de junho, a gente vê uma reação direta do número de membros com eventos políticos na sociedade, incluindo as marchas. De uma forma geral, há um crescimento muito grande nos últimos meses, um envolvimento maior da comunidade", afirma o diretor de Campanhas da Avaaz, Michael Freitas Mohallen, ao Broadcast Político. Entre as campanhas de 2013, tiveram destaque a petição pelo impeachment do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), com mais de 1,5 milhão de assinaturas, e o abaixo-assinado, mais recentemente, que pede o fim do voto secreto no Legislativo e que já conta com mais de 650 mil signatários.De acordo com Graziela, as petições virtuais têm criado uma via de comunicação com o poder público que permite concretizar e sintetizar demandas que muitas vezes estavam nas ruas. "A pessoa cria abaixo-assinados não como especialista ou advogado, mas como alguém que cria empatia com outros cidadãos. Tem um impacto imediato quando um abaixo-assinado chega diretamente na caixa de e-mails do Poder Público. Os políticos não têm como ignorar, especialmente na esfera local."Muitas vezes, as petições vêm acompanhadas de outras formas de mobilização, como no caso da campanha pela suspensão das licitações do transporte público, em São Paulo, direcionada ao prefeito Fernando Haddad (PT). Vitoriosa, a campanha foi criada em junho pela integrante do movimento Transparência Hacker Daniela Mattern, de 33 anos, e reuniu 6 mil assinaturas. No entanto, o diálogo com outros movimentos sociais e o Ministério Público (MP), as manifestações nas ruas e iniciativas para a abertura dos documentos públicos foram também fundamentais para que Haddad decidisse rever a decisão."Minha esperança é que um dia a gente possa usar a internet também para votar algumas questões e participar de forma mais direta na administração pública, defende Daniela. "A tendência é que a gente aprenda a usar cada vez mais essas ferramentas, de forma cada vez mais propositiva e ativa, para além de dar um like ou assinar", acrescentou.Outro caso de sucesso foi a petição pela liberação de venda de acarajés durante a Copa do Mundo de 2014, no Estádio Fonte Nova. Em oito meses, mais de 17 mil assinaturas foram alcançadas e as regras de alimentação foram modificadas. "Nós, finalmente, conseguimos dobrar uma das entidades mais fechadas do mundo. A Fifa voltou atrás e refez o projeto de alimentação da Arena Fonte Nova, incluindo quiosques para a venda de acarajé", comemora a baiana Rita Santos, criadora do abaixo-assinado. Ao todo, 29 petições chegaram a vitórias concretas no site Change.org, em 2013.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.