Cúpula do setor aéreo dá versões diferentes para a crise

Ministro da Defesa admite crise aérea e diz que há falhas em equipamentos. Para comandante da Aeronáutica, sistema é moderno. E diretor da Anac rejeita crise

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Defesa, Waldir Pires, admitiu que a crise aérea decorre de "problemas de recursos humanos e falhas em equipamentos" e que a origem dos problemas está também em "procedimentos de gestão". A opinião do ministro diverge da do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e da do diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Os três prestaram esclarecimentos sobre o "apagão aéreo" em comissão na Câmara, nesta quarta-feira, 11. Segundo Saito, o atual sistema de controle do tráfego aéreo é moderno. "Dizem que o sistema é obsoleto", comentou, exibindo imagens das instalações e equipamentos do Cindacta-4 (centro de controle do tráfego aéreo na Amazônia). "São supermodernos. Este entrou em operação em novembro de 2005." Em seguida, apresentou imagens do Cindacta-1, de Brasília, e afirmou: "É um sistema muito moderno. O pessoal trabalha com todo o conforto, tem ar condicionado e sala de descanso." E acrescentou que, quando há uma revitalização do sistema, este fica "dez anos sem obsolescência". Zuanazzi foi na linha do comandante da Aeronáutica e rejeitou a idéia de crise. "Não há crise no setor aéreo, estamos longe disso. A verdadeira crise foi a que superamos a partir de 2004". E insistiu na afirmação de que o setor aéreo vive neste momento "sua melhor performance, do ponto de vista de oferta de assentos e de demanda." Ao falar do que considera uma "verdadeira crise", o diretor-presidente da Anac se referiu ao período de 1999 a 2003, "quando houve a desvalorização do real, as empresas aéreas estavam com dívidas em dólar, a aviação mundial enfrentava as conseqüências do atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, e duas grandes operadoras brasileiras - TAM e Varig - estavam no vermelho". Ministro da Defesa Durante sua exposição, Pires mostrou-se tenso. Apesar de admitir problemas de recursos humanos e falhas em equipamentos, ele fez a ressalva de que tem um "respeito extraordinário" pelo comandante da Aeronáutica. O ministro fez reiterados elogios ao "brigadeiro Saito e seus comandados" e ao presidentes da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, e ao diretor da Infraero, Milton Zuanazzi, ambos também presentes à audiência. Insistiu, também, na afirmação de que a legitimidade do mandato do ministro de Estado "decorre simplesmente da escolha do presidente da República, que exerce a soberania popular a o comando supremo das Forças Armadas." E admitiu que seu poder em relação ao comando aéreo, como ministro, é limitado. "Quando não se respeita a soberania nacional e popular, estamos trabalhando para destruir as bases legítimas das instituições democráticas. Minha participação, minhas atribuições são um campo restrito, estreito." Pires disse também que cumpre suas tarefas "com a maior alegria", mas voltou a afirmar que sua decisão é a de "jamais ultrapassar os limites da constituição e da lei. O ministro afirmou que os problemas no controle do tráfego aéreo são "rotina" nos países em desenvolvimento. "É a rotina no plano do governo federal, dos Estados, dos municípios. É também minha experiência desde sempre na vida política." Pires exibiu um exemplar da Constituição, afirmando que a crise, "decorrente de vários fatores, que têm que ser vencidos, modificados, e estão sendo", tem que ser combatida "dentro das regras constitucionais." O ministro anunciou que responderá a todas as indagações dos parlamentares, "sem nenhuma exceção, nenhuma limitação". Comandante Saito Além de afirmar que o atual sistema de controle do tráfego aéreo é moderno, Saito informou que o Cindacta-1 (Brasília) controla 60% do tráfego aéreo do País e que, embora o Brasil tenha 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a responsabilidade pelo tráfego, vigilância e salvamento, em caso de problemas, se dá em 22 milhões de quilômetros quadrados, pois inclui áreas do Oceano Atlântico. O comandante disse que os investimentos em equipamentos de controle do tráfego aéreo são, hoje, de R$ 6 bilhões. De 2001 a 2007, segundo o brigadeiro, foram investidos R$ 2 bilhões, incluídos os gastos com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), e o custo do sistema por ano, com pagamento de salários, serviços e investimentos, é de R$ 600 milhões, e 12 mil homens trabalham nele. "Se for contar com a Infraero, são 13.682." O comandante disse ainda que, neste ano, estão sendo formados 373 controladores que passaram em concurso, e 100 aposentados estão em controle de tráfego estão retornando ao serviço. Diretor da Anac Zuanazzi, que rejeitou a avaliação de que o sistema brasileiro de controle do tráfego aéreo esteja vivendo uma crise, insistiu ainda na afirmação de que o setor aéreo vive neste momento "sua melhor performance, do ponto de vista de oferta de assentos e de demanda." Em relação à demanda, anotou: "Ela é maior do que a da China." O diretor da Anac sustentou ainda que a prova de que o setor aéreo vive um bom momento é que as empresas têm, juntas, investimentos da ordem de R$ 3,4 bilhões. "Elas estão todas apostando no crescimento", insistiu. O diretor da Anac comentou ainda que algumas companhias aéreas, como a TAM, têm investido na renovação da frota, o que seria mais uma prova de que não há crise. Texto ampliado às 13h57

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.