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Cunha carregava boletins de Pinato em paletó e tinha informações sobre Petrobrás no quarto

Entre os itens apreendidos pela Política Federal estão recibos de transações suspeitas, contratos e documentos que comprovam contas no exterior

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Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla , Carla Araujo e Adriano Ceolin
Atualização:
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista no Salão Verde da Casa Foto: Alter Campanato|Agência Brasil

BRASÍLIA - O material obtido na operação de busca e apreensão feita na terça-feira nas residências do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, subsidiou o pedido de afastamento apresentado Procuradoria-Geral da República nesta quarta-feira. Entre os itens apreendidos pela Política Federal estão recibos de transações suspeitas, contratos e documentos que comprovam contas no exterior, pastas que reforçam a influência de Cunha sobre parlamentares e papéis que trazem informações de operações investigadas como a aquisição da Petrobras no campo de Benin, na África. 

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A PF apreendeu no bolso do paletó de Cunha o boletim ocorrência em que o deputado Fausto Pinato, ex-relator do processo instaurado no Conselho de Ética, relata crime de ameaça. Para a PGR, o “interesse incomum” de Cunha pelo documento reforça a suspeita em torno da atuação do peemedebista para pressionar o então relator do processo.

Cunha também estava de posse de um segundo boletim de ocorrência em que o deputado Pinato é suspeito de estar envolvido no cometimento de contravenção penal. “Aqui o interesse do Eduardo Cunha possivelmente era conhecer a extensão dos fatos supostamente desonrosos envolvendo o deputado Fausto Pinato para que pudesse, de alguma maneira, constrange-lo caso levasse adiante o intento de prejudicar o Eduardo Cunha junto ao Conselho de Ética”, argumenta o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

No quarto de Cunha e sua esposa, Claudia Cruz, que também é investigada, foi encontrado uma folha impressa com informações sobre a aquisição da Petrobras no campo de Benin, operação que teria supostamente gerado pagamento feito em uma das contas encontradas na Suíça. A PF recolheu ainda um documento impresso da IMG Academy, que figura como beneficiária de pagamentos da conta Köpek da Suíça. “Numa demonstração clara da vinculação de Eduardo Cunha a esta conta”.

Também foram encontrados, na residência de Cunha em Brasília, diversos documentos bancários de conta correntes no exterior, incluindo dos bancos Merrill Lynch e Julius Baer, com sede na Suíça. “Os mencionados documentos evidenciam que, de fato, Cunha possui conta no exterior, em especial na Suíça”, diz.

No escritório de Cunha no Rio, a PF recolheu um “livreto” em inglês com procedimentos para registro de empresas. “O que evidencia o interesse do Eduardo Cunha em criar empresas no exterior”, diz a PGR.

A Polícia Federal encontrou também uma pasta com o nome “requerimentos de autoria da Dep. Solange Almeida”, o que, para a PGR, reforça a relação estreita entre ambos e a tese de que a deputada apresentava requerimentos a mando de Cunha. Solange também foi denunciada na Lava Jato no mesmo inquérito do presidente da Câmara por suspeita de ter atuado em nome do peemedebista para pressionar o lobista Julio Camargo.  

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PF realizou buscas e apreensão na casa de Eduardo Cunha, em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão

Rio de Janeiro. Além do imóvel de Cunha em Brasília, a PF realizou buscas e apreensões em dois imóveis de Cunha no Rio de Janeiro. Na residência de Cunha foram encontrados documentos encadernados que comprovam a ligação com o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, que está preso por conta da Lava Jato desde 25 de novembro.

Datados de 17 de setembro de 2014, o conjunto de documentos reforça o interesse de Cunha em relação ao Banco BSI, comprado no ano passado por André Esteves. A PGR ressalta que a relação entre Cunha e Esteves já estava evidenciada nos documentos apreendidos na casa de Diogo Ferreira, assessor do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), ambos presos, que citam o pagamento de R$ 45 milhões feito pelo BTG a Eduardo Cunha pela emenda à Medida provisória 608.

Ainda na residência do Rio, a PF apreendeu recibos e contratos relacionados o operador Lúcio Funaro, delator do mensalão ligado a Cunha, que também foi alvo de buscas na última terça-feira. Entre eles um recibo no valor de R$ 720 mil relacionado à empresa Cingular Fomento Mercantil Ltda, de propriedade de Funaro.

Na casa de Funaro, a PF encontrou notas de corretagem e histórico de saques, pagamentos e transferências “vinculados à notas de corretagem, extratos de contas correntes, tudo vinculado a Eduardo Cunha”. Cunha é suspeito de apresentar - ele próprio e por meio de aliados - emendas e requerimentos para pressionar o grupo Schahin a pedido de Funaro. 

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