Crivella dá cargo a filho de Witzel 

Nomeação mostra aproximação; interlocutores não descartam a possibilidade de apoio do governador do Rio à reeleição do prefeito

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Por Caio Sartori
Atualização:

RIO - O prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (PRB), nomeou nesta sexta-feira, 2, Erick Marques Witzel, de 24 anos, filho do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), para o cargo de assistente na Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura. A nomeação expõe a aproximação entre Crivella e Witzel, bem como as agendas em conjunto que tiveram nas últimas semanas. Interlocutores não descartam um eventual apoio do governador à reeleição do prefeito.

O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, entretanto, cobra o apoio de Witzel ao nome que será indicado pela legenda para concorrer à prefeitura do Rio no ano que vem. A sigla, que tem 12 deputados estaduais e é a principal base do governo no Legislativo, já anunciou a pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim para o cargo.Witzel e Amorim aparecem juntos na foto que mostra o parlamentar quebrando uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco.

Crivella e Witzel, em entrevista para divulgar construção de autódromo no Rio; prefeito e governador têm participado de agendas conjuntas Foto: CLAUDIA MARTINI/FUTURA PRESS - 26/6/2019

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“Wilson não tem eleitor. Teve zero voto. Foi Jair Bolsonaro que transferiu aqueles votos para ele”, afirmou o vice-líder do governo na Alerj, deputado Alexandre Knoploch (PSL). “Se ele for apoiar o Crivella, vai estar até ridicularizando todos aqueles que votaram nele. Eu acredito que ele tenha caráter e seja leal àqueles que votaram nele.” Segundo Knoploch, o governador garantiu há menos de um mês ao partido que vai apoiar Amorim.

O governador, por outro lado, já demonstrou interesse em se projetar nacionalmente. Em março, antes de completar 100 dias à frente do governo do Rio, Witzel externou em entrevista sua intenção de concorrer à Presidência em 2022. Ele disse ainda que havia conversado sobre o assunto com Bolsonaro, e que o presidente afirmou na ocasião que não pretendia se candidatar à reeleição. Em junho, no entanto, Bolsonaro falou mais de uma vez sobre a possibilidade de concorrer a um novo mandato em 2022.

“Somos uma coalizão conservadora capaz de enfrentar a esquerda colorida, a decadência e a turma de São Paulo (o PSDB, que busca palanque para o governador João Doria em 2022). Não há motivos para rompimento. Seria uma incoerência”, disse Amorim.

No próprio PSC, partido do governador, há a possibilidade de ser lançada candidatura própria. Amorim recebeu proposta para se filiar ao partido, mas não aceitou. Para o líder do governo na Alerj e correligionário de Witzel, deputado Márcio Pacheco (PSC), a candidatura no Rio é um “caminho natural” da legenda, que, além de apostar num até então desacreditado Witzel na eleição do ano passado, lançou o hoje senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, para a prefeitura do Rio em 2016. Isso foi antes dele se filiar ao PSL – atualmente, é o presidente estadual da legenda. 

“Tenho certeza de que o PSL saberá separar a eleição municipal da questão da governabilidade na Alerj”, afirmou Pacheco. “Estamos conversando com o Amorim, que é um player muito importante, mas o governador entende que não é hora de falar em eleição.” Knoploch, porém, disse que, caso Witzel abrace a reeleição de Crivella, não terá o apoio dele na Assembleia.

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Filho. A coordenadoria para a qual Erick foi nomeado afirmou que ele já trabalhava havia três meses como voluntário e agora cumprirá, como assistente, expediente de 40 horas semanais, de segunda a sexta-feira. O salário é de R$ 1.695.

O coordenador especial de diversidade sexual, Nélio Georgini, divulgou uma nota em que afirma que a contratação não se deu “pelo sobrenome”, e sim “por méritos próprios, pelo ativismo público e seu engajamento em defesa da comunidade LGBT e dos direitos humanos.” Erick é transsexual.

No ano passado, ele ficou meses sem falar com o pai. O rompimento se deu ainda durante a campanha, segundo Erick, por divergências políticas. Após a eleição de Witzel, o filho afirmou que “perdeu o pai” quando viu a foto dele comemorando a quebra da placa com o nome de Marielle Franco.

Em maio, ele anunciou em suas redes sociais que havia voltado a falar com o governador. Era Dia dos Pais, e Erick publicou duas fotos em suas redes sociais ao lado do governador. “Por esses dias eu ouvi o seguinte: ‘mesmo que eu e meu pai não concordássemos em nada, eu daria tudo para tê-lo aqui perto.’ Foi um tapa na cara. (...) Preciso abrir esse caminho do diálogo”, afirmou, destacando que não iria abandonar os ideais em defesa da comunidade LGBT+. Na quarta-feira passada, ele foi com o pai, corintiano, ver o jogo do Flamengo no Maracanã. Apareceram abraçados.

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