Crivella cresce com discurso ecumênico

Bispo licenciado, senador desvincula sua imagem da Universal para ampliar eleitorado no Rio

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Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

RIO - Em Campo Grande, na zona oeste, na quinta-feira passada, o candidato do PRB à prefeitura do Rio, senador Marcelo Crivella, respondia a mais uma pergunta sobre política e religião. Dizia que “um partido político não pode ser de igreja, tem que ser de todos, católicos, espíritas, evangélicos, até de quem não tem religião”, quando uma mulher gritou: “Ainda bem, porque sou macumbeira”.  Era Andrea Soares, de 38 anos, filha de santo do candomblé, que abraçou o candidato e pediu: “Não abandone os candomblecistas”. Crivella respondeu: “Sou candidato a prefeito, não a preconceito”.  Líder nas pesquisas de intenção de voto, com 31% no Ibope e Datafolha, Crivella, carioca de 58 anos no segundo mandato parlamentar, dedica-se, nos últimos dias de campanha, a preparar correligionários para os ataques que, para ele, se intensificarão. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ele é sobrinho do bispo Edir Macedo, fundador da Universal. O parentesco é lembrado por adversários, em especial os aliados do candidato do PMDB, Pedro Paulo. O prefeito Eduardo Paes refere-se a Crivella como “preposto do Edir Macedo”. 

Caminhada. Crivella faz campanha em Campo Grande Foto: Fabio Motta/Estadão

O senador está na terceira disputa para a prefeitura. Já concorreu duas vezes o governo do Estado. Sempre começou as campanhas com bons índices de intenção de voto, mas só foi ao segundo turno em 2014 – perdeu para o governador reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB). Este ano, Crivella aprimorou a estratégia adotada há dois anos: desvinculou sua imagem da Universal, que não cita no site da campanha, divulgou o apoio de militantes LGBT, de outras religiões e do samba e reuniu em sua equipe experientes pensadores de esquerda. Com 9% no Ibope, Marcelo Freixo (PSOL) tem dificuldade de ir além do eleitorado formado por universitários, artistas, intelectuais e defensores do direitos humanos. Jandira Feghali (PCdoB) soma 8% das intenções de voto e nacionalizou a campanha, ao rotular o impeachment como golpe e ir para a rua com a presidente cassada Dilma Rousseff e o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Também estão embolados em segundo lugar nas pesquisas Indio da Costa (PSD), com 7% no Ibope, e Flávio Bolsonaro (PSC), filho do deputado federal Jair Bolsonaro, provável candidato a presidente em 2018. Flávio Bolsonaro tem 8%. Rejeição. Afilhado de Eduardo Paes, o candidato do PMDB ainda não conseguiu conquistar o eleitorado que simpatiza com o prefeito. Pedro Paulo tem 9% de intenção de voto, enquanto Paes tem 27% de avaliação boa e ótima. Em outra ponta, o peemedebista tem a maior rejeição (36% dizem não votar nele de jeito nenhum) entre os candidatos, semelhante aos 34% que consideram a gestão de Paes ruim ou péssima. A rejeição de Crivella, que estava em 33%, caiu para 24% no último Ibope. Na estratégia de descolar a imagem de Crivella de candidato exclusivo dos evangélicos, colaboradores católicos do senador chegaram a imprimir panfletos com fotografia da visita que fez ao arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta. A Igreja Católica reagiu. Divulgou que d. Orani recebeu vários candidatos, mas não apoia nenhum deles. Apesar das adaptações para ampliar o eleitorado, Crivella reitera ser contra o aborto e a legalização das drogas. Ao contrário de 2014, quando não se aliou, desta vez o candidato coligou-se ao PR, do ex-governador Anthony Garotinho, também evangélico, e com o nanico PTN.Recall. Para o cientista político Michael Mohallem, da FGV, a redução do tempo de campanha e da propaganda de rádio e TV beneficiou os candidatos conhecidos do eleitorado e cria dificuldades para os novos se apresentarem. “A campanha mais curta beneficiou os candidatos com recall. Crivella é o que disputou eleições há menos tempo, em 2014.”  Para reagir a ataques, o senador criou a seção “verdades e mentiras” no site da campanha. À pergunta “Edir Macedo vai controlar a cidade?”, Crivella responde que “nunca sofreu nenhum tipo de influência de grupos ou líderes religiosos e nunca legislou em torno de uma causa que não fosse de interesse nacional”.