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Crise se arrasta há mais de 100 dias no Senado

Denúncia de que teria despesas pagas por lobista veio à tona em 25 de maio e, desde então, Renan é alvo de uma acusação atrás da outra

Por Gabriel Manzano Filho
Atualização:

Iniciada com uma denúncia no dia 25 de maio, a crise vivida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que já dura 104 dias, tirou o sossego da Casa e, pelas duas derrotas sofridas ontem pelo senador, no Conselho de Ética e na CCJ, está longe de terminar. Nesses dois meses e meio, Renan perdeu o chão e o sono, viu amigos se distanciarem e seu nome, aos olhos de muitos, transformar-se em sinônimo de escândalo. Aos poucos, escapou-lhe das mãos o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus dramáticos discursos, no Senado, em nada melhoraram sua vida. No primeiro golpe contra ele, tornou-se público um segredo pessoal: ele tinha uma filha de três anos fora do casamento, com uma jornalista de Brasília, Mônica Veloso. A denúncia inicial da Veja era de que ele teve a ajuda de Cláudio Gontijo, um lobista da construtora Mendes Jr., para pagar despesas pessoais de Mônica e da filha. Renan dramatizou o episódio, mas não provou que tinha recursos para tanta despesa - em torno de R$ 12 mil mensais. O episódio mergulhou o Senado numa crise. De início os amigos o apoiaram mas o Conselho de Ética dividiu-se ao avaliar se o caso valia uma processo por quebra de decoro. Enquanto Renan pressionava e trocava pessoas no Conselho para se garantir, a paisagem em volta foi mudando. Suas "provas" eram desmentidas e novas denúncias o acossavam de todos os lados. Vendo o clima piorar, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou: "O que não pode é o Senado ficar sangrando e, mais do que isso, fedendo. Essa situação está ficando insustentável." O primeiro tropeço de Renan foi alegar que pagava as despesas de Mônica graças à venda de gado de uma fazenda em Alagoas. O argumento, no entanto, teve vida curta: uma reportagem do Jornal Nacional, ouvindo os compradores, mostrou que a tal venda era falsa. Dias depois, a Polícia Federal constatou que as notas apresentadas eram frias. A essa acusação sucederam-se outras três. Uma delas, a de que ele vendeu por preço inexplicavelmente alto - R$ 27 milhões - uma pequena fábrica de tubaína da qual era sócio em Alagoas, a Cony. Quem a comprou foi a cervejaria Schincariol. E o dinheiro a mais, segundo suspeitas da polícia, seria para compensar o senador pela intermediação, junto ao INSS e à Receita Federal, para negociar dívidas da empresa. No início de agosto, Veja divulgou, também, que Renan teria comprado, sem nada declarar à Receita, um jornal e duas emissoras de rádio de Alagoas. Era negócio de R$ 2,5 milhões, e ele teria sido ajudado por um laranja, seu velho amigo Tito Uchoa. Tinha um sócio na compra, o ex-deputado João Lyra. Este confirmou a operação e o caso motivou um segundo processo no Conselho de Ética. MAIS DENÚNCIAS Renan começou então a bater no Grupo Abril, acusando-o de ter vendido de forma ilegal um canal de TV a cabo, a TVA, para a Cia. Telefônica, espanhola - acusação que a Abril negou. Dias depois, a 7 de agosto, o Supremo Tribunal Federal pediu a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador. E veio uma terceira denúncia, a de que ele teria recebido propinas, ao lado de outros políticos, por ajudar o banco BMG a obter primeiro o direito de operar o crédito consignado. As coisas pioraram quando um secretário-adjunto da Mesa, Marcos Santi, demitiu-se, no último dia 28, por discordar de sua pressão para que o parecer do grupo fosse favorável à votação secreta no processo contra ele. Suas alegações de inocência perderam força. E, para sua tristeza, o Conselho de Ética aprovou um terceiro processo por quebra de decoro, por causa da compra não revelada do jornal e das emissoras de rádio de Alagoas.

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