Crise política empantana o Congresso

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Por Agencia Estado
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O Palácio do Planalto bem que tentou retomar as rédeas do processo político, anunciando seu plano de ação governamental e arrancando dos partidos aliados um manifesto conjunto contra qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Mas tanto os aliados quanto os adversários do presidente Fernando Henrique Cardoso avaliam hoje que o governo está à reboque da crise política, a despeito das cobranças por parte de ministros políticos, de uma ação efetiva do Congresso para sair do imobilismo, e dos apelos dos líderes governistas pela ?convergência nacional?. A sucessão no Congresso encerrou-se há 35 dias e há mais de uma semana o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) silenciou em sua guerra particular contra o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA). Mas nem assim governo e Congresso conseguiram fechar uma agenda de votações e levar projetos importantes ao plenário. ?Ainda estamos vivendo o rescaldo da eleição no Congresso, que provocou uma série de crises dentro dos partidos e no relacionamento entre os aliados?, resume o senador Geraldo Melo (PSDB-RN). De fato, a briga eleitoral foi tamanha, que desarrumou internamente os três grandes partidos da base aliada (PMDB, PSDB e PFL), criando novas alas de descontentes em cada bancada. ?O governo não conseguiu, até agora, superar esta desarrumação?, constata o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). E como se não bastassem as disputas entre os correligionários, o que dificultou muito a partilha do comando das comissões técnicas da Câmara e Senado, a antecipação do debate de candidaturas e parcerias para a corrida presidencial de 2002 multiplicou os conflitos entre os aliados. Nesta terça-feira, ficou por conta do ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, cobrar do Congresso que saia logo do imobilismo. ?Basta que os presidentes da Câmara e do Senado ponham as matérias importantes em votação?, disse Pimenta. O ministro sugere que o Congresso invista no debate e na votação da reforma política que, a seu ver, ?certamente mobilizaria todos os partidos?. Ao mesmo tempo em que o ministro cobrava ação do Congresso, o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), subia à tribuna para fazer um apelo em favor da união nacional em torno de questões objetivas. Arruda pediu para que pensassem ?no Brasil e no interesse público?, retomando a votação das nove Medidas Provisórias sobre as quais já há consenso. ?Seria uma sinalização importante para o mundo econômico?, sugeriu. ?Isto é apenas um discurso?, reagiu o José Fogaça (PMDB-RS). ?Nada está funcionando porque os canais políticos estão completamente emperrados e, com isto, as ações do governo não têm conseqüência?, resumiu o peemedebista. ?O governo perdeu a liderança da agenda do País, e a sensação geral é a de que está tudo afundando com a P-36 (a plataforma da Petrobras) e com as crises da Argentina e do Japão?, emenda o líder do PPS no Senado, Paulo Hartung (ES). Para dar a medida da gravidade da crise, o líder faz questão de salientar que ?este quadro de desintegração do governo, que começa a se desenhar? não interessa aos partidos de oposição. ?Pra gente, quanto pior não é melhor; é pior mesmo?. A preocupação com o imobilismo é tamanha, que o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), defende que os governistas peguem até carona na crise da Argentina e da Petrobras para sair da agenda das CPIs. Arthur e Arruda propuseram nesta terça um grande debate em torno dos dois temas. Além de um seminário com ministros e economistas ligados a partidos aliados e também ao PT para discutir a economia argentina, eles querem levar o presidente da Petrobras, Henri Reichstul, ao plenário do Senado na terça-feira, para explicar o desastre com a P-36. Com a mesma disposição de não permitir que a crise política contamine a economia foi que o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), levou os 14 senadores tucanos para um jantar com o presidente Fernando Henrique nesta terça à noite. Mais uma iniciativa para arrumar a bancada, depois da crise com o governador cearense Tasso Jereissati (PSDB) por conta do acordo com o PMDB no Congresso, fortalecendo a pré-candidatura do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), ao Planalto.

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