Crise deve beneficiar oposição em 2010, dizem analistas

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Por FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E CÉLIA FROUFE
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Mais do que restringir a capacidade de investimentos dos novos prefeitos, a crise econômica internacional vai também influenciar a campanha presidencial daqui a dois anos. A popularidade do presidente Lula, atualmente acima dos 80%, deverá chegar ao final de 2010 com índices mais modestos, na faixa dos 50%, calculam analistas consultados pela Agência Estado. Neste cenário, os especialistas apostam que uma candidatura presidencial de oposição, como a do governador José Serra (PSDB), tende a se fortalecer. Segundo os analistas, o presidente Lula não informou a população sobre os reais impactos desta crise de proporções globais na economia brasileira e agora, depois das eleições municipais, ele terá que tomar medidas impopulares para minimizar os estragos importados pela desordem econômica no mundo. Para o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, uma aprovação popular ao redor de 50% não pode ser considerada um índice ruim. Mas certamente ele deverá ser alvo de muitos ataques da oposição. "Uma mostra dos ataques que Lula sofrerá daqui para a frente já foi dada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ao citar que seu sucessor teria se esforçado para esconder a crise da população", diz Ribeiro. O analista político da Tendências Consultoria Integrada, Rogério Schmitt, também prevê que a popularidade do presidente Lula chegará em 2010 ao redor de 50%, abaixo dos atuais 80%. Schmitt é outro que aposta no fortalecimento da candidatura Serra em 2010, não só pelos impactos da crise econômica do Brasil, mas pela vitória que o tucano angariou nessas eleições. Sobre as medidas impopulares que o governo federal deverá adotar para estancar os efeitos da crise no mercado doméstico, o chefe do Centro de Crescimento Econômico da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel Pessôa, prevê um aperto fiscal maior e um aumento da carga tributária. "Não se faz pacto fiscal avisando que vai fazer, e acho que o governo fará isso em 2009, aumentando a meta do superávit primário", disse ele. Ao contrário da maior parte dos analistas do mercado financeiro, Pessôa considera a política fiscal do governo positiva. "A política fiscal é melhor do que a gente pensa que ela é, as rubricas de custeio vêm crescendo abaixo do PIB (Produto Interno Bruto) e não há farra fiscal", disse, explicando que sua avaliação é isenta, pois é assessor do senador (de oposição) Tasso Jereissati (PSDB-CE). Aperto Apesar disso, o economista acredita que o governo pode elevar ainda mais a carga tributária até o final deste ano. "Não ficarei espantado se houver um aumento após a eleição. Acho que o presidente Lula, no alto da sua popularidade, tentará ampliar a arrecadação." Para um dos sócios-diretores da Rosenberg & Associados, o presidente Lula é um homem muito inteligente e já percebeu que os efeitos da crise econômica mundial não chegarão no Brasil apenas como uma "marolinha". "Ele deverá começar o aperto no máximo daqui a dois meses para fazer o trabalho ao longo de 2009 e tentar chegar limpo em 2010", diz o analista, acrescentado acreditar que o presidente Lula está ciente de que por muito menos o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu as eleições para ele.

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