Crise deixa dúvidas sobre futuro do 'lulismo' no País

Legado do ex-presidente é incerto, mas ele ainda será principal nome daesquerda para 2018,afirmam analistas

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Por Bianca Passerini e Marianna Holanda - ESPECIAIS PARA O ESTADO
Atualização:

A derrocada da presidente Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato colocam em dúvida a sobrevivência do que se convencionou denominar, entre acadêmicos e especialistas em marketing político-eleitoral, de “lulismo”, o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu futuro político.

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Francisco Malfitani, um dos precursores do marketing político no Brasil, avalia que o “PT está moribundo, mas não morto nas próximas eleições”. Para ele, o legado dos dois mandatos de Lula ainda é capaz de fortalecer o partido.

“Lula, apesar de estar com sua imagem bem arranhada, ainda é a maior liderança individual da política no Brasil”, afirma. Essa imagem de líder, porém, só poderia ser mantida se um possível governo do vice-presidente Michel Temer fracassasse, analisa Malfitani. “Se o País voltar a progredir e crescer com Temer, o legado de Lula começa a ficar mais distante e ele pode se enfraquecer. Se o governo Temer fracassar, Lula é candidato favorito em 2018.”

Para o filósofo e professor da Unicamp Marcos Nobre, o campo da esquerda deve decidir se Lula é o melhor candidato para 2018. “O lulismo é uma proposta de pacto social e político muito amplo que o Lula fez. Acho que o governo Dilma mostra que uma utilização tecnocrática do ‘pemedebismo’ não funciona, já que Lula mostra que uma utilização do ‘pemedebismo’ para fins de bandeiras de esquerda pode funcionar”, diz.

Lava Jato. Lula após ser levado para prestar depoimento Foto: Márcio Fernandes|Estadão

Nobre ressalta que, apesar de haver o que ele chama de demonização de Lula e do PT, “Lula continua sendo a figura mais importante da esquerda do País e um líder político para uma enorme parcela da população”.

‘Cacoetes’. Na avaliação do professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj José Maurício Domingues, não há como a biografia e a popularidade de Lula não terem sido afetadas pelo impeachment de Dilma e pelo que ele chamou de “cacoetes típicos dos políticos tradicionais”.

“Lula segue eleitoralmente muito forte, mas o sucesso do fim de seu segundo mandato parece haver embriagado a ele e ao PT. Será preciso mais humildade para dar a volta por cima, mostrando que pretendem modificar práticas políticas, reformar o sistema de verdade e apresentar uma agenda progressista para o País”, avalia.

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O historiador e professor da USP Lincoln Secco afirma que, com o impedimento de Dilma, “pode ser que o partido se recomponha com um discurso de defesa de suas políticas sociais e dos direitos trabalhistas”. Secco lembra que ainda é cedo para responder se Lula pode voltar nas próximas eleições por causa do risco de uma prisão. “Se isso acontecer, ele será percebido como vítima”, diz. Segundo o professor, para os mais pobres e menos escolarizados é “tênue” a linha que separa a crítica ao sítio de Atibaia e a compaixão com o operário perseguido.

Na avaliação do marqueteiro Paulo de Tarso Santos, que coordenou as duas primeiras campanhas presidenciais de Lula, em 1989 e 1994, ainda levará alguns anos para o PT se reerguer. “No longo prazo, o partido voltará a ter participação na vida política. Só não sei se volta ao poder.” Para ele, o partido deveria se repensar, apoiando-se nas militâncias. “Espero que o PT não seja extinto, porque ele é importantíssimo para o Brasil. O próprio Fernando Henrique Cardoso disse isso.”