Crise de autoridade marcou gestão de Tápias

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Por Agencia Estado
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Os quase dois anos em que Alcides Tápias esteve no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foram marcados por uma constante crise de autoridade. Ele assumiu o Ministério em 14 de setembro de 1999, mas não conseguiu dominar a máquina administrativa do ministério. Em pouco tempo, Tápias não escondia sua frustração pessoal quando identificou o que chamava de excesso de vaidade entre os diversos integrantes do governo, da disputa pelo poder e do complexo sistema de tomada de decisões. Seu primeiro embate foi com o então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Andrea Calabi, que não se enquadrou em qualquer das regras de boa convivência defendidas pelo ministro. Calabi não agia como seu subordinado. Como funcionário de carreira do Bradesco, onde começou a trabalhar em 1957, como aprendiz de praticante, chegando à vice-presidência do banco, Alcides Tápias respeitava em gênero, número e grau a disciplina e a hierarquia e se revoltou com o que acontecia em sua área: Calabi conversava diretamente com os outros ministros. No final de 1999, Tápias conseguiu substituir Calabi por Francisco Gros. Quando assumiu o cargo, anunciou, em seu discurso de posse, que seria o ?guerrilheiro da reforma tributária?, provocando imediatamente a reação do secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que, até aquele momento, resistia a apoiar qualquer proposta. Esta, porém, não foi a última divergência com Everardo Maciel. Os dois bateram de frente na discussão e anúncio sobre a implantação de regras tributárias para estimular as exportações. O impasse foi resolvido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que ordenou o discurso e imprimiu ritmo acelerado na reestrururação da Câmara de Comércio Exterior (Camex), com objetivo de fortalecer Tápias. Com o ex-ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, Tápias bateu em duas frentes. Tourinho defendia a dolarização do preço dos combustíveis a ser importado pelo gasoduto da Bolívia enquanto Tápias era contrário à idéia. Em outra frente, Tourinho resistia a adotar as medidas para viabilizar a privatização de Furnas, enquanto Tápias defendia o modelo que acabou sendo apoiado pelo governo - embora nunca concretizado - de venda pulverizada das ações da hidrelétrica. O período de atividade do ex-ministro Alcides Tápias no governo não foi só de embates. O ministro, que, afinal nunca assumiu a defesa da reforma tributária, foi fundamental para destravar o impasse entre os empresários da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e os representantes da bolsas de valores na votação do projeto que alterou a Lei das Sociedades Anônimas na Câmara no início do ano. Tápias era o trunfo do governo também para jogar água na fervura dos empresários da Fiesp. Desmotivado, Tápias reclamava do excesso de vaidade entre os diversos integrantes do governo, da disputa pelo poder e do complexo sistema de tomada de decisões. A expectativa era de que, com o fortalecimento da Camex, as medidas de fortalecimento das exportações surtissem efeito, e Tápias passasse a se sentir prestigiado no governo, o que não aconteceu. Nesta segunda-feira, Tápias jantava sozinho em um restaurante da Academia de Tênis de Brasília.

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