CPI pede 'imediata intervenção' do Ministério Público na Bancoop

CPI da Bancoop investigou denúncias de esquema de desvio de dinheiro da cooperativa para campanhas do PT; segundo o MP, as supostas fraudes chegariam a R$ 100 milhões

Por Gustavo Uribe/SÃO PAULO
Atualização:

Os parlamentares que compõem a CPI da Bancoop aprovaram nesta segunda-feira, 25, em sessão na Assembleia Legislativa, relatório final em que pedem ao Ministério Público a "imediata intervenção" na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) e a exclusão do seu caráter jurídico, sob a alegação de desvio de finalidade. O relatório será remetido nos próximos dias ao governo de São Paulo e sugere ainda ao Palácio dos Bandeirantes que estude a viabilidade de uma linha de crédito para cerca de 3 mil famílias que teriam sido lesadas pela cooperativa de crédito. O objetivo seria financiar a conclusão das obras paralisadas, mas o documento não detalha de onde viriam esses recursos.

 

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O texto foi aprovado por 5 dos 9 parlamentares que integram a CPI. Os deputados do PT chegaram atrasados na sessão e apresentaram voto em separado, que foi anexado no documentado aprovado. O relatório final, de 82 páginas, baseou-se em artigos da Lei das Cooperativas, nº 5.764/71, segundo os quais é competência do poder público intervir numa entidade dessa categoria quando há violação de suas disposições legais ou ameaça de insolvência em virtude de má administração. Ao pedir a descaracterização jurídica da entidade, o objetivo da CPI é tornar os cooperados em consumidores, evitando que arquem com as dívidas da entidade perante terceiros.

 

"Admitindo-se a hipótese de não ser extinta a personalidade jurídica da Bancoop, seus cooperados responderão pelas inúmeras irregularidades aqui apuradas", destaca o texto, que cita depoimento de dirigentes da Bancoop de que a entidade apresenta "mais de 500" demandas na esfera trabalhista e "outras centenas" na esfera cível, acrescidos a um passivo superior a R$ 90 milhões. "Assim, uma vez mantida a personalidade jurídica da cooperativa ora investigada seus cooperados responderão pelos prejuízos causados por seus dirigentes", aponta o relatório. Além do governo de São Paulo, o relatório deve ser enviado ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados.

 

A CPI da Bancoop investigou durante sete meses denúncias que apontariam a existência de esquema de desvio de dinheiro da cooperativa para campanhas do PT. De acordo com o Ministério Público, as supostas fraudes chegariam a R$ 100 milhões. De acordo com o advogado Valter Picazio Júnior, que representa a maior parte dos cooperados, em torno de 8,5 mil famílias foram lesadas na entrega de imóveis financiados pela entidade. "O relatório final deixa claro a relação entre PT e Bancoop", afirmou o relator, Bruno Covas (PSDB).

 

O documento não pede punição ao ex-presidente da Bancoop e tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. A função ficou a cargo do promotor de Justiça José Carlos Blat, que na terça-feira denunciou criminalmente o ex-dirigente por crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O promotor requereu ainda a quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari. A denúncia ainda será analisada pela 5.ª Vara Criminal de São Paulo.

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