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CPI investigou gerente de banco presa nos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

Maria Carolina Nolasco, a executiva de contas bancárias do Valley National Bancorp, em Nova York (EUA), presa semana passada pelas autoridades federais americanas sob acusação de integrar uma milionária rede brasileira de lavagem de dinheiro, foi investigada em sigilo na Câmara Federal, entre 1999 e 2000, pelos deputados que integraram CPI do Narcotráfico, revelou o delegado aposentado da Polícia Federal Paulo Lacerda, que assessorou a CPI nas investigações sobre lavagem de dinheiro. Quando a CPI acabou, em 2000, encaminhou para o Ministério Público Federal (MPF) o resultado das investigações sobre Carolina. "Os indícios de que ela integrava uma rede de lavagem de dinheiro utilizada pelo crime organizado e pelo narcotráfico eram muito fortes", lembra Lacerda. O delegado disse que um informante da CPI chegou a revelar que, poucos dias de morrer, o tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Paulo César Farias, o PC Farias, entregou para Carolina cheques no valor de US$ 54 milhões. "Não chegamos a investigar isso, mas quase todas as informações transmitidas por este informante foram confirmadas pela CPI", conta Lacerda. Este informante secreto, mais tarde identificado pela CPI como o foragido da Justiça Paulo Roberto Tinoco, foi o mesmo que revelou como e onde a CPI poderia encontrar documentos que comprovariam o patrimônio milionário de Augusto Farias, irmão de PC, em nome de "laranjas". "Estes documentos realmente foram descobertos na empresa Tigre Vigilância Patrimonial Ltda., em Alagoas", afirma Lacerda. "Embora nunca tenhamos descoberto qual o interesse que movia este informante, até hoje foragido, o certo é que ele passou informações importantíssimas para a CPI. Era sem dúvidas um homem que conhecia o esquema por dentro." Outra testemunha, Joaquim Hernando Castilla Jimenez, um colombiano controvertido que se dizia genro do chefe de um dos grandes cartéis de drogas da Colômbia, e também ?expert? em lavagem de dinheiro, afirmou em um de seus depoimentos que Carolina era "uma gerente de conta, private banking, uma pessoa que maneja uma boca". De acordo com Lacerda, "boca" é o termo utilizado para designar casas de câmbio com esquema de remessa ilegal e lavagem de dinheiro. As autoridades americanas que decretaram, na semana passada, a prisão de Carolina, uma americana de origem portuguesa, afirmaram que ele controlava pelo menos 268 contas ilegais no Merchant?s Bank, de Nova York, onde ocupou o cargo de vice-presidente. As autoridades americanas apontaram diversas casas de câmbio brasileiras que integravam o esquema, a principal delas a Turist-Câmbio, de São Paulo. A empresa pertenceu ao empresário paulista Antônio Pires de Almeida. Cerca de US$ 8 milhões, encontrados em três contas em nome de Pires, no Merchant?s Bank de Nova York, foram confiscados. Na sede da Turist-Câmbio, em São Paulo, a única pessoa que responde em nome da empresa é Roseli Cielfi. Ela garantiu hoje para a Agência Estado que Pires já não é sócio da empresa "há vários anos" e diz nunca ter tido qualquer tipo de relacionamento comercial com ele. "Eu apenas comprei a empresa, nada mais", afirmou. De acordo com documentos da Junta Comercial de São Paulo, Roseli foi sócia de Pires na Turist-Câmbio, assumiu toda a responsabilidade sobre a empresa há 4 anos, mas ainda figura como sócia de Pires em uma outra empresa, a Copires Empreendimentos e Incorporações S/A. "Há algum engano, não sei nada sobre isso", disse Roseli, antes de colocar um ponto final na conversa. Nos EUA, Carolina vai responder às acusações em liberdade, depois de pagar uma fiança de US$ 250 mil. Para o delegado Lacerda, as investigações do esquema no Brasil podem revelar nomes importante e lançar "uma luz" nas ramificações das operações de lavagem de dinheiro do crime organizado.

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