CPI desiste de gravações de Cachoeira com jornalista

Redator-chefe da revista 'Veja' teria ligações com o contraventor investigado pelo Congresso

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Por Redação
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BRASÍLIA - Mesmo com apoio do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de parte da bancada do PT, a CPI do Cachoeira desistiu nesta quinta-feira, 16, de pedir à Polícia Federal as gravações telefônicas das conversas entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação.

 

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Diante da forte reação da oposição e de parlamentares da base aliada, a comissão preferiu apoiar uma proposta para pedir à Polícia Federal o repasse, ordenado por nome, de todos os grampos telefônicos feitos nas operações Vegas e Monte Carlo. Em termos práticos, a decisão não muda nada o intento de acesso às conversas do jornalista, mas foi um recuo político de quem pretendia carimbar uma relação promíscua da revista com Cachoeira.

 

Para justificar o envio das conversas entre o contraventor e o jornalista, Fernando Collor disse, no início dos debates, que é preciso analisar os trechos dos diálogos para verificar se fica comprovado "que tenha havido um conluio mancomunado entre Policarpo Junior e Carlinhos Cachoeira". O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que é jornalista e advogado, disse que a proposta de Collor abriria um "precedente perigoso e inominável". O senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que o requerimento é "absolutamente inconstitucional". "É ridículo", classificou ele, ressaltando que o pedido parece mais "vingança e autoritarismo".

 

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) observou em seguida que o requerimento de Collor poderia ser prejudicado, porque Taques já havia pedido a transcrição de todas as conversas, e não só a do contraventor com o jornalista. Para ela, havia a intenção no pedido de "constranger" a imprensa e "tutelar" a relação do jornalista com suas fontes.

 

O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), insistiu na aprovação do pedido de Collor com o argumento de que "nenhuma profissão pode cometer crimes". "Esse jornalista teve uma relação de 10 anos com este criminoso", disse Teixeira, classificando essa relação de "promíscua". Coube ao deputado Silvio Costa (PE), colega de partido de Collor, fazer a mais dura defesa da rejeição do pedido do senador. "Nós não podemos transformar esta CPI numa espécie de paraíso do revanchismo", afirmou Costa. "Senador Collor, se reencontre com o país", pediu.

 

Após intenso debate, o relator da CPI, deputado petista Odair Cunha (MG), disse que nenhuma pessoa que foi "corrompida ou cooptada" pela organização criminosa do Cachoeira será blindada. "Não haverá blindagem para nenhuma pessoa, seja jornalista, deputado, senador, governador, empresário, polícia, procurador e juiz que se envolveu com essa quadrilha", disse. Mas acabou concordando com a observação feita por Kátia Abreu, de que o pedido de Collor estava prejudicado. O recuo político da intenção inicial foi acatado por todo o colegiado, com o apoio de parlamentares do PMDB.

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