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CPI da Covid mira compra de vacina indiana e justifica preços para investigar Queiroga

Documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo pagou as doses por um valor 1.000% maior do anunciado pela própria fabricante

Foto do author Daniel  Weterman
Foto do author Amanda Pupo
Por Daniel Weterman e Amanda Pupo (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – O contrato do governo do presidente Jair Bolsonaro para compra da vacina indiana Covaxin entrou na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que vai investigar a negociação e o próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Conforme o Estadão revelou, documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou as doses por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante.

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A ordem para a aquisição da vacina indiana, produzida pelo laboratório Bharat Biotech, representado no Brasil pela Precisa Medicamentos, partiu pessoalmente do presidente Bolsonaro, revelam os documentos. “Nós vamos aprofundar. Nesta semana teremos um olhar especial para a negociação da Covaxin, que parece absurda sobre qualquer aspecto”, disse o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL).

O empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, teve os sigilos telefônico, bancário e fiscal quebrados pela CPI. Além disso, foi convocado a prestar depoimento na comissão. A audiência estava marcada para esta quarta-feira, 23. Ele, porém, alegou que viajou para a Índia e que estaria obrigado a cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias.

Covaxin é produzida pelo laboratório Bharat Biotech, representado no Brasil pela Precisa Medicamentos; compra do governo entrou na mira da comissão Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A oitiva será remarcada para a próxima semana, anunciou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “A cada dia a Comissão Parlamentar de Inquérito tem mais dúvida sobre o caráter transparente e correto dessa negociação”, afirmou Renan. 

A cúpula da CPI citou o preço das vacinas compradas pelo governo Bolsonaro como justificativa para investigar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Nesta terça-feira, 22, os senadores aprovaram a decisão do relator de incluir 14 pessoas como investigadas, incluindo o atual chefe da pasta. A lista de investigados foi anunciada por Renan na semana passada e já era oficial. Após protestos de governistas, no entanto, a decisão foi colocada em votação e aprovada. 

De acordo Aziz, é preciso investigar por que o governo deixou de comprar doses no ano passado e resolveu adquirir vacinas neste ano com preços maiores. “A gente sabia que todos os laboratórios iam investir fortunas para fazer a pesquisa porque com certeza quem descobrisse a vacina primeiro ia ter um retorno enorme financeiro, tanto é que o Brasil já comprou vacina de 50 reais que agora está 83 reais. Essa da Índia, o Brasil está comprando a mais de 15 dólares”, disse o presidente da CPI. “Não era só salvar vidas. Era interesse também de pesquisar e investir porque ia ter retorno, coisa que está ocorrendo”.

Além disso, os senadores questionam os valores pagos à Pfizer após o governo federal ter ignorado as ofertas da empresa no ano passado. No caso da Pfizer, foram quase onze meses de negociação, período no qual o preço oferecido não se alterou (US$ 10 por dose). O Executivo, no entanto, negociou a compra de mais 100 milhões de doses a US$ 12 a unidade, preço 20% maior do que o negociado no primeiro contrato, conforme o Estadão publicou em maio. “O contrato que o ministro Queiroga assinou é de US$ 12 a dose. Se tivéssemos comprado a vacina em dezembro do ano passado, o Brasil teria economizado R$1 bilhão só na Pfizer”, observou Aziz. 

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Correções

Diferentemente do que inicialmente dizia o texto, a economia do Brasil na compra da Pfizer, segundo o senador Omar Aziz, seria de R$ 1 bilhão, e não o mesmo valor em dólares. 

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