CPI conclui que morte de prefeito teve motivação política

O relator Garibaldi Alves também citará petistas próximos a Lula, como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, e o presidente da Sebrae, Paulo Okamotto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um capítulo do relatório final da CPI dos Bingos será dedicado à tese de que motivações políticas levaram ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, do PT, em 2002. Ao contrário da convicção da Polícia Civil de São Paulo, que aponta seqüestro como causa do homicídio, o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), dirá que o prefeito morreu porque reagiu a um esquema de desvio de dinheiro que envolvia empresas de transporte e de limpeza urbana que prestavam serviço ao governo municipal. A hipótese de crime político tem sido descartada também pelo presidente Lula e pelos principais líderes do PT. Garibaldi disse que não citará possíveis suspeitos de autoria do assassinato, mas apontará os supostos envolvidos no esquema de corrupção. Entre os indiciados pela CPI, estarão o ex-secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira Souza e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que estava com Celso Daniel no momento do seqüestro. O relator detalhará denúncia do irmão do prefeito, João Francisco, de que ouviu do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, que o dinheiro do esquema de corrupção era levado ao ex-ministro José Dirceu. Carvalho e Dirceu negam que tenham qualquer envolvimento no suposto esquema de desvio de recursos na cidade paulista. Garibaldi afirmou que, por enquanto, não tem elementos para indiciar Dirceu e Carvalho neste caso. "Tenho que citar (as denúncias contra o ex-ministro e o chefe de gabinete) porque estão dentro da história de Santo André. Vou entrar na questão da rede de corrupção e lançar a suspeita que a polícia não quer admitir, de que foi motivação política. A CPI tem convicção de que houve corrupção em Santo André e que motivou o crime. Mas quem matou é uma questão da polícia", disse o relator. As conclusões do relator sobre o caso Santo André serão um dos principais pontos de polêmica com os governistas da CPI. O senador Tião Viana (PT-AC) diz que aceita até uma citação sobre a investigação que foi feita, mas rejeita conclusões como a de que houve crime político e o indiciamento por corrupção de pessoas ligadas a Celso Daniel e ao PT. "Espero que o relator nos chame para o diálogo antes da conclusão do relatório", disse o senador petista. Petistas O relatório também pedirá o indiciamento ou detalhará suspeitas que recaem sobre alguns dos petistas mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. O próprio Lula será citado em pelo menos dois trechos, mas o relator Garibaldi Alves diz que não tem elementos para pedir ao Ministério Público a investigação do presidente. Serão citados também o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e o compadre de Lula, Roberto Teixeira. Os técnicos da CPI continuam buscando elementos para o pedido de indiciamento de Carvalho e Dirceu. No documento final, que deverá concluído dia 31 de maio e votado em 6 de junho, Garibaldi ratificará indiciamentos contra Palocci já feitos pela Polícia Civil de São Paulo e pela Polícia Federal. No primeiro caso, o relator diz estar convencido de que Palocci tinha conhecimento de um esquema de corrupção em Ribeirão Preto, no período que administrou a cidade. Neste caso, será pedido o indiciamento dos integrantes da chamada República de Ribeirão, grupo que assessorava o ex-ministro na prefeitura e foi levado para Brasília depois a eleição de Lula. No segundo caso, Garibaldi apontará Palocci como responsável pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Será apontado como co-autor do crime o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso. "Sabe-se que a situação de alguns investigados agravou-se bastante, como o ministro Palocci, o Jorge Mattoso e outros", disse Garibaldi nesta terça-feira. Sobre a corrupção em Ribeirão Preto, o relator afirmou: "Não tenho convicção de que ele (Palocci) sabia de tudo, mas de alguma coisa ele tinha conhecimento." No caso de Okamotto, Garibaldi disse que "mineiramente" deverá sugerir mais investigações, mas ressalvou que ainda não tem elementos para recomendar o indiciamento do presidente do Sebrae. O relator contará em detalhes não só as denúncias feitas pelo ex-petista Paulo de Tarso Venceslau como relatará os recursos de Okamotto ao Supremo Tribunal Federal (STF), que impediu a CPI de analisar os dados do sigilo bancário do presidente do Sebrae. "Okamotto vai entrar no relatório como fujão", brincou um parlamentar com Garibaldi. Okamotto é acusado por Paulo de Tarso de comandar um esquema de arrecadação de dinheiro de caixa 2 de empresas fornecedoras de prefeituras petista para as campanhas do partido. Lula Um dos trechos em que o presidente Lula será citado refere-se às denúncias de Paulo de Tarso. O ex-petista diz que denunciou a Lula, há oito anos, o esquema de corrupção nas prefeituras e que, além de Okamotto, estava envolvido também o compadre do presidente Roberto Teixeira. Segundo Paulo de Tarso, Lula mandou que procurasse Teixeira. Paulo de Tarso repetiu as denúncias em reunião com Lula, Teixeira e José Dirceu. O ex-petista descreveu o encontro, em depoimento à CPI, como "conversa de surdos-mudos", porque as acusações, segundo ele, não foram levadas a sério. A segunda citação a Lula será sobre as suspeitas quanto à origem do dinheiro usado por Okamotto para pagar uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT e para pagar despesas de R$ 26 mil da filha de Lula, Lurian. Há a suspeita de que os gastos são incompatíveis com a renda de Okamotto, mas o impedimento de investigar as contas bancárias emperrou a investigação. Uma terceira citação a Lula deverá ser feita se a CPI conseguir avançar na suspeita de que dois donos de bingos fizeram uma doação de R$ 1 milhão de caixa 2 à campanha do presidente, em 2002. Lula seria citado por ser o candidato, mas não como participante da sonegação. Se as investigações avançarem, poderá ser pedido o indiciamento de José Dirceu e de Palocci como coordenadores da arrecadação ilegal.

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