Cortes orçamentários põem aviões da FAB no chão

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Por Agencia Estado
Atualização:

A partir de segunda-feira, os aviões da Força Aérea Brasileira não deverão mais voar, inclusive os que fazem o transporte de autoridades, por causa dos cortes no orçamento da Aeronáutica, que atingiram quase R$ 400 milhões. No Exército e na Marinha, a situação não é diferente. O Exército deverá adotar meio expediente a partir da próxima semana e a Marinha, suspender a manutenção das suas embarcações. Os aviões de patrulha Tucano, por exemplo, que estavam participando da Operação Tapuru, na região Amazônica, na semana passada, e foram deixados em São Gabriel da Cachoeira (AM), para um rescaldo na fiscalização na área, ficarão naquela cidade fronteiriça, mas, ironicamente, não poderão voar. O Comando Militar da Amazônia (CMA), que concentrou o controle da operação Tapuru e, portanto, ainda acompanha o deslocamento das aeronaves na região, disse que não podia confirmar a ordem para os aviões não decolarem por causa dos cortes, mas que também não podia desmentir. Os cortes vieram em uma hora muito problemática, na visão dos militares. Eles lembram que a Operação Tapuru mostrou a vulnerabilidade da Amazônia e a necessidade de um patrulhamento constante, principalmente a partir de agora, já que Álvaro Uribe foi eleito novo presidente da Colômbia e declarou guerra aos traficantes e à guerrilha. Os anúncios oficiais das medidas provenientes dos cortes só serão feitos depois de sexta-feira, quando o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, retornar de sua viagem a Portugal. O presidente Fernando Henrique Cardoso já foi informado da irritação e da preocupação dos militares em relação à extensão da redução de recursos para as Forças, mas avisou que não há o que fazer. De acordo com um de seus auxiliares mais próximos, "sem a aprovação da CPMF não há como reverter nenhum dos cortes", teria afirmado o presidente, ao saber do descontentamento. Na avaliação de FHC, sem a CPMF não há argumento que sensibilize o governo, porque não há de onde tirar o dinheiro. Nas Forças Armadas, os cortes chegaram a R$ 930 milhões. Os adjetivos usados pelos oficiais-generais das três forças em relação às preocupações são os mais drásticos, assim como as previsões quanto às medidas que precisarão ser adotadas para cumprir a determinação da área econômica. Os chefes militares não se cansam de repetir que a Operação Tapuru, encerrada sábado, mostrou a necessidade de intensificar os trabalhos na fronteira. "Se permanecer esta determinação, as conseqüências serão drásticas", previu um oficial-general, ressaltando que a vigilância de fronteira ficará ameaçada. No caso da Aeronáutica, a prioridade da Força será a formação da tropa. Mas o corte poderá até mesmo atrasar a inauguração do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), previsto para o mês de julho. Coincidentemente, o corte está sendo feito no momento que a FAB está próxima de anunciar o resultado da concorrência para a substituição dos caças Mirage, orçada em US$ 700 milhões. Os recursos, naturalmente, vêm de fontes diferentes e serão totalmente financiados. Mas os militares consideram uma ironia este corte acontecer justamente neste momento em que o País teve uma demonstração da importância de realização de patrulhas na Amazônia.

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