Coronavírus leva a Câmara de SP a votar, pela primeira vez, projeto de lei a distância

Pacote de medidas fiscais apresentado pelo prefeito Bruno Covas é analisado em sessão virtual

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Por Adriana Ferraz
Atualização:

A pandemia do coronavírus não só esvaziou o prédio da Câmara Municipal de São Paulo, no centro, como também levou a presidência da Casa a promover a primeira votação virtual de um projeto de lei de impacto para a população: o pacote de medidas fiscais apresentado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) para lidar com a situação de emergência.

Vereador Police Neto em primeira sessão virtual da Câmara Municpal de São Paulo Foto: Nilton Fukuda / Estadão

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Debatida de forma online, a proposta foi aprovada nesta quarta-feira, 25, por unanimidade. Ao todo, 54 dos 55 vereadores deram aval, em primeira discussão, para o remanejamento de recursos de fundos municipais para custear o combate ao vírus – o 55.º está de licença médica. A sessão fica aberta por 12 horas – o parlamentar pode votar a qualquer momento nesse intervalo de tempo. Nesta quinta-feira, 26, os vereadores apreciaram as emendas e na sexta, 27, ocorrerá a votação definitiva antes de seguir para a sanção de Covas.

A votação a distância foi possível porque a Câmara já dispunha de um plenário virtual desde maio do ano passado. Implementado pelo presidente Eduardo Tuma (PSDB), o sistema era até então usado somente para apreciação de Projetos de Decreto Legislativo (PDLs), que tratam de homenagens, nomes de rua e datas comemorativas. Resolução publicada semana passada mudou essa regra e passou a permitir também a análise de Projetos de Lei (PLs), desde que relacionados à pandemia.

Segundo a vereadora Soninha Francine (Cidadania), o plenário remoto oferece até vantagens em relação ao sistema físico. “No virtual, as pessoas podem acompanhar a participação de cada vereador a qualquer hora e de qualquer lugar. Claro que não é uma substituição que sirva para todas as ocasiões, mas estamos conseguindo fazer um debate e detalhado do que a gente consegue fazer no plenário físico”, disse.

O vereador Arselino Tatto (PT-SP) relatou pontos positivos e negativos da votação à distância. Foto: Acervo Pessoal

Para o vereador Arselino Tatto (PT), que está no oitavo mandato consecutivo, a experiência foi ótima. “Dá para votar projetos importantes para a cidade dessa forma. A única coisa ruim é que a discussão fica prejudicada e o povo não participa (presencialmente). Isso é péssimo para a democracia, especialmente em tempos de (governo de Jair) Bolsonaro”, afirmou. O parlamentar votou de sua casa, na zona sul, onde segue as orientações de isolamento social.

Janaína Lima (Novo) classificou como “excelente” a possibilidade de votação remota e destacou que, utilizando-se de ferramentas digitais, a Câmara segue trabalhando com segurança e transparência. Como todos, a vereadora votou a favor do projeto da Prefeitura, mas destacou que é preciso aprimorá-lo para a votação final. “O projeto deixa de tratar de medidas importantes, como moratória e parcelamento de tributos bem como concessão de auxílio às pessoas mais vulneráveis.”

A vereador Janaína Lima (NOVO-SP) classificou como 'excelente' a realização da sessão virtual. Foto: Acervo Pessoal

Nesta quinta, os vereadores puderam conferir as lista de emendas apresentadas ao projeto, que ainda deve ser bastante modificado para o período de quarentena. Police Neto (PSD), por exemplo, trabalhava em normas específicas para as taxas cobradas de motoristas de aplicativos e de comerciantes para o uso de espaços públicos. “A cidade deve ter uma legislação adequada para o tempo que vamos viver, de restrição, mas também de enfrentamento da área da saúde e da economia.”

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Correção

Como poderia mesmo ocorrer, o sistema falhou em dois casos. Sem conseguir acesso, Gilberto Natalini e Reginaldo Tripoli, ambos do PV, precisaram votar pelo Skype. “Fiquei desesperado. Quem me conhece sabe que não falto a nenhuma sessão, e minha senha não estava entrando. O jeito, então, foi votar por vídeo”, conta Natalini.

O vereador Gilberto Natalini (PV-SP) teve dificuldades para participar da sessão online. Foto: Acervo Pessoal

Nesta quinta, técnicos da Câmara foram até a casa do parlamentar e resolveram o problema. “Agora já consegui publicar minha emenda e amanhã vou participar da segunda votação”, afirmou. As emendas podem ser ‘postadas’ pelos vereadores no sistema, que permite uma espécie de chat para debate.

Fernando Holiday (Patriota) ressaltou que o sistema funciona bem, mas pode ser aprimorado por canais de videoconferência para facilitar o debate, por exemplo. Celso Jatene lamentou o afastamento do plenário. “Votação virtual não combina com o Parlamento, mas é necessária pelo momento.”

O link onde a sessão ocorre é público, sendo disponibilizado no site da Câmara. O acesso é livre para qualquer pessoa acompanhar, sem necessidade de cadastro.

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