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Copa é o momento de aproximar político do eleitorado

Para especialistas, esse período é uma excelente oportunidade de exposição para candidatos

Por Wladimir D'Andrade e SÃO PAULO
Atualização:

A cada quatro anos dois grandes eventos monopolizam a atenção dos brasileiros: eleições presidenciais e Copa do Mundo. Ao contrário da avaliação de que futebol não combina com política, o mundial de futebol pode se tornar, segundo especialistas, uma excelente oportunidade de exposição para candidatos que disputam o voto do eleitorado. "Os pré-candidatos devem aproveitar o gancho da Copa para aumentar sua exposição na mídia", atesta o consultor e professor de marketing esportivo Erich Beting. Como exemplo, ele cita o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff, que fizeram coro pela convocação do atacante sensação Neymar e do meio-campista Paulo Henrique Ganso, ambos do Santos. Até Marina Silva (PV) se juntou aos adversários. "Pedir o Neymar na Copa dá um ar de simpatia", diz. Fotos com os jogadores da seleção canarinho também podem associar a imagem do candidato ao dos heróis brasileiros e passar uma imagem de "vencedor". "Jango (o ex-presidente João Goulart) se deixava fotografar com Garrincha e tomando champanhe na taça Jules Rimet (o antigo troféu do mundial da Fifa)", lembra Marcos Guterman, colunista e doutor em História Social. "(Essas ações) sempre trazem algum dividendo. Agora, o tamanho (deste dividendo) depende da identidade do candidato com o futebol." Contudo, para Humberto Dantas, cientista político do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac), o eventual ganho eleitoral que poderá ser obtido é baixo, já que a campanha política começará efetivamente na fase final da Copa do Mundo, depois das convenções partidárias, no mês de junho. Ele explica que é quase certo que os pré-candidatos tentarão marcar presença no noticiário no dia dos jogos do Brasil. "Mas é uma tentativa de tirar proveito de algo que não está tão associado assim com a eleição", reitera. Em contrapartida, Fábio Wanderley, cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que o campeonato poderia sim beneficiar Dilma se o Brasil voltar com o hexacampeonato da África do Sul. "Uma conquista poderia aumentar esse clima de euforia que já existe com o governo Lula e, assim, ajudar a Dilma", avalia. Mas nada se compara à ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o esporte mais popular do País. Em seus discursos, Lula costuma utilizar metáforas relacionadas ao futebol e dar palpites a respeito da seleção brasileira e do Corinthians, seu time de coração. Segundo Guterman, Copa do Mundo e eleição é uma "ótima combinação" para o presidente. Mas isso não significa que o mesmo pode ocorrer com relação à sua candidata, Dilma Rousseff. "Aliás, ela não é nem um pouco associada ao futebol", diz Guterman.Planejamento As campanhas dos três principais pré-candidatos à sucessão presidencial informaram que ainda não planejaram ações com vistas à Copa do Mundo. A coordenação de campanha da senadora Marina Silva disse que é necessário "sentir o clima desse período". Já a cúpula da campanha de Serra afirmou que ele ainda se encontra na fase de pré-campanha e, por isso, não tem nenhuma ação traçada. A coordenação da campanha da petista Dilma Rousseff disse também que ainda não há nada planejado para os jogos do mundial. Apesar da agenda dos presidenciáveis ainda não estar definida, os especialistas afirmam que há tempo hábil para planejar e que isso é importante para que os políticos possam tirar proveito do evento, que começa no dia 11 de junho. "A Copa se impõe de tal maneira no noticiário que é impossível o candidato não planejar ações com vistas ao mundial", diz Guterman. "Obviamente o torneio na África do Sul ganhará destaque nessa agenda, tanto pela importância dada ao futebol pelo brasileiro quanto pela forma como a própria mídia lidará com o assunto", afirma Lino Castellani, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Observatório do Esporte, grupo de pesquisadores sobre o tema. Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26 mostra que 42% dos pesquisados disseram ter "grande interesse" pelo mundial, enquanto 36% afirmaram ter o mesmo nível de atenção pela disputa presidencial. Fábio Wanderley concorda que os brasileiros ficam "muito mais voltados" ao noticiário do mundial. E vai além: "De certa forma as eleições ficam em segundo plano independente da Copa." Porém, estatísticas indicam que as pesquisas eleitorais sofrem oscilações nesse período, sinal de que parte do eleitorado mantém um olho na Copa e outro nos candidatos.Influência Apesar da exposição que os políticos podem ter no período dos jogos da Copa do Mundo, não se pode afirmar que há uma relação automática, direta e mecânica entre o resultado da performance da seleção e o eleitor, explica Lino Castellani. Segundo ele, um possível hexacampeonato do Brasil na África do Sul pode, sim, elevar a autoestima do brasileiro, "dando margem a que ele venha atribuir o sucesso na Copa às iniciativas exitosas do governo no campo da política esportiva". Já para Guterman, "o eleitor sabe diferenciar uma coisa da outra". "Claro, ele pode se deixar emocionar com o desempenho na competição, mas governo não ganha ou perde eleição por causa da Copa", destaca. Os coordenadores das campanha devem ver a Copa do Mundo como um aspecto "cultural" do País. "A Copa está enraizada na nossa cultura. O político deve se envolver não para ganhar voto, mas para se expor e ganhar um espaço na mídia", finaliza Beting. Porém, é necessário cuidado nas ações. Fábio Wanderley alerta que na tentativa de se manter na mídia, aproveitando o período do mundial, os pré-candidatos podem até criar uma antipatia se suas ações não forem bem conduzidas. "O candidato pode parecer inoportuno querendo se aproveitar de um momento de emoção para o brasileiro para fazer campanha. Pode soar artificial", diz.

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