Integrante da Central de Movimentos Populares (CMP) e um dos coordenadores nacionais da Frente Brasil Popular, que reúne dezenas de movimentos contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Raimundo Bonfim classificou a proposta de realização de novas eleições uma traição às milhares de pessoas que foram às ruas para defender o resultado da eleição de 2014.
A antecipação das eleições por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) é defendida por um grupo de senadores e por setores do PT, do governo e movimentos, como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que integra a Frente Povo Sem Medo), como uma espécie de antídoto para o possível afastamento de Dilma.
Segundo Bonfim, a posição contrária à proposta é unanimidade entre os grupos que integram a Frente e imobiliza os movimentos sociais que ainda acreditam em uma virada na luta contra o impeachment no Senado, podendo dificultar a mobilização para o ato em defesa de Dilma marcado para o dia 1º de maio, em São Paulo.
Leia trechos da entrevista.
Estado - Qual sua opinião sobre a proposta de eleições antecipadas?
Raimundo Bonfim - É um tiro no pé do campo democrático e popular que resistiu e defendeu o mandato da presidente Dilma nas ruas em 2015 e sobretudo no início de 2016. É uma traição às pessoas que continuam indo às ruas para defender o resultado da eleição. Isso nos imobiliza no momento em que estamos em um crescente.
Por quê?
Porque ela não dialoga com o que foi o movimento, não tem embasamento jurídico, não tem apoio político, não dá unidade no nosso campo e legitima um proceso que estamos denominando de golpe.
Esta é uma opinião pessoal sua ou é compartilhada com outras lideranças?
É uma posição oficial da Frente Brasil Popular que foi tirada na quarta-feira da semana pasada em uma reunião nacional e de forma unânime.
Qual a estratégia para enfrentar o avanço do impeachment no Senado?
É continuar as mobilizações nas ruas. Aliás isso já está acontecendo. Entendemos que o Senado terá dificuldade de aprovar um impeachment sem a presidente ter cometido crime de responsabilidade.
Isso vai contra todos levantamentos feitos pela imprensa e avaliações políticas que dão como certo que o impeachment passa no Senado.
No final de 2015 o mundo político dizia que não teria impeachment. Agora é outra história. A política é uma ciência humana. Nós não trabalhamos com a possibilidade de que o impeachment está dado. Se trabalhássemos não estaríamos mobilizando gente nas ruas.
O debate sobre novas eleições pode ter impacto nas manifestações contra o impeachment do dia 1º de Maio?
É muito provável. Se esse debate for colocado publicamente, temo que desmobilize o movimento popular. Tentar levar o movimento político e social para discutir eleições vai enfraquecer a rua e pode ter consequência já no 1º de Maio.
Vocês podem passar a considerar essa proposta caso o impeachment avance no Senado?
Temos uma etapa que é a admissibilidade do processo agora no Senado. Outra é o julgamento do mérito. Se o impeachment prosperar, vamos sentar e discutir a próxima estratégia.