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'Convocação foi muito sui generis', diz professor sobre atos pró-governo

Sem a participação de grupos como MBL e Vem Pra Rua, manifestações deste domingo foram convocadas, 'de forma coordenada', pelo WhatsApp

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Por Alessandra Monnerat
Atualização:

As convocações para os atos deste domingo, 26, parecem ter ocorrido de forma coordenada no WhatsApp, de acordo com o professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado. O acadêmico monitorou mensagens em grupos públicos no aplicativo e publicações no Facebook durante as últimas semanas. Na rede social, sem a participação dos usuais influenciadores e grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, a movimentação foi mais orgânica, com páginas menores.

Neste domingo, o grupo de pesquisa de Ortellado também vai às ruas. O objetivo é fazer cerca de 600 entrevistas para entender a demografia da manifestação. No Facebook, não é possível fazer análise desse público, porque a empresa não divulga mais esses dados. Recentemente, a rede social anunciou que Ortellado e o também professor da USP Márcio Moretto Ribeiro farão parte de um pequeno grupo de 60 pesquisadores do mundo a ter acesso a informações dos mais de 2 bilhões de usuários do Facebook.

O pesquisador Pablo Ortellado, da USP Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ/ ESTADÃO

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Quando começaram as convocações para os atos?

As coisas mais antigas foram no dia 15 (quando ocorreram protestos nacionais contra cortes no orçamento de educação), mas a coisa pegou mesmo no dia 17 (quando Bolsonaro compartilhou um texto no WhatsApp falando que o País é ingovernável). O WhatsApp foi onde os esforços foram mais coordenados. Apareceu tanta coisa de uma vez que parecia realmente um esforço coordenado. No Facebook, como houve uma reação dos grupos tradicionais antipetistas, como MBL e Vem Pra Rua, páginas menos tradicionais, como “Suzano hoje”, ganharam relevância. O Nas Ruas, um grupo grande que substituiu o Revoltados Online, também teve posts muito compartilhados. Minha impressão é que no Facebook foi um movimento mais orgânico, e no WhatsApp, mais coordenado.

Como as redes reagiram às críticas de aliados de Bolsonaro contra a manifestação?

Um fenômeno foi o nível de desengajamento do MBL. Eles perderam milhares de seguidores no YouTube e no Facebook. Houve um fortalecimento de outras fontes, mas parece um fenômeno passageiro. A manifestação não deve ser pequena, e isso deve isolar as pessoas que pularam para fora do barco. É como se o bolsonarismo estivesse dizendo: ‘Não precisamos de vocês’.

Pelo termômetro das redes, como deve ser o protesto do domingo?

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É difícil prever, mas não parece uma reação orquestrada. Realmente, dezenas de milhares de pessoas ficaram bravas com o MBL. O quão grande vai ser não tem como dizer, mas não será um fiasco. Acredito que ficará entre médio e grande.

Quais foram os temas compartilhados nas mensagens de WhatsApp e publicações de Facebook?

Nos primeiros dias, havia uma pauta antissistema forte e quando chegou aos canais com mais visibilidade ela mudou. A pauta oficial é a reforma da Previdência, o pacote anticrime, a manutenção do número de ministérios e do Coaf no Ministério da Justiça. Essa última pauta, aliás, já perdeu o sentido. Também havia muitas mensagens de repúdio à atuação do STF, inclusive o pedido de impeachment de alguns ministros; apoio à Lava Jato; e um pouco de intervenção militar. Nos primeiros dias, eram só mensagens contra o Centrão.

Nos grupos de apoio a Bolsonaro, muitas mensagens retratam o presidente como uma figura quase messiânica. Há um fundo religioso nas mensagens de convocação para o protesto?

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Nesse sentido de messianismo, tem. É uma mistura de messianismo e crítica às elites. O que me pareceu mais forte é o ataque ao Centrão, ao STF e ao Congresso. Tenho a impressão de que a convocação inicial era contra o Congresso. E também jogaram no mesmo caldeirão os professores de universidades e os meios de comunicação. É curioso porque o Bolsonaro não bateu diretamente no STF. É uma pauta anticorrupção anterior a ele.

Em relação ao volume de publicações e mensagens, como essa manifestação se compara a outros momentos-chave do governo Bolsonaro?

Não medimos o volume, mas é uma convocação muito sui generis. Teve uma outra manifestação no final do segundo turno, chamada “PT nunca mais”. Mas era convocada pelo MBL e pelo Vem Para Rua. Vamos ver se agora eles conseguem convocar o mesmo público. Seria uma demonstração de força e de autonomia do bolsonarismo.

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