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Conversas indicam atuação na Justiça

Vários telefonemas demostram intimidade com Poder Judiciário

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Por Rodrigo Rangel
Atualização:

Num dos diálogos gravados pela Polícia Federal durante a Operação Boi Barrica, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), telefona para avisar o filho Fernando Sarney sobre o andamento de um dos recursos apresentados pelos advogados da família ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), para ter acesso aos autos da investigação. Sarney orienta o filho a procurar um "amigo", que poderia ajudar. Em várias conversas interceptadas pela PF com autorização judicial, os Sarney demonstram intimidade com integrantes do Poder Judiciário. Ouça os diálogos entre Sarney e o filho sobre os negócios da família "O processo foi distribuído, o novo, para o Gallotti (ministro Paulo Gallotti, então relator do processo)", diz Sarney a Fernando. Em seguida, o pai manda que o filho procure o tal "amigo" para tratar do assunto: "Se pudesse falar com o teu amigo pra dar uma palavrinha, tá?" Precavido, o filho sugere um encontro pessoal. "É, mas isso eu tenho que fazer pessoalmente. Pegar um avião e ir aí (a Brasília) segunda, né?" Sarney manda Fernando resolver por telefone mesmo. A conversa ocorreu em 28 de março de 2008. Na data, um dos advogados da família, Eduardo Ferrão, dera entrada, no STJ, com o segundo recurso para tentar ter acesso ao inquérito que deu origem à Operação Boi Barrica. Obteve êxito. Em 9 de abril, o ministro Paulo Gallotti, hoje aposentado, concedeu liminar que deu ao advogado direito de vista de um dos inquéritos da operação. Em dezembro de 2007, em substituição a Gallotti, o ministro Napoleão Nunes Maia Filho já havia autorizado a consulta a outro procedimento. Cada pedido dos investigadores à Justiça Federal do Maranhão era autuado com um número diferente. Como em toda investigação sigilosa, os números eram mantidos em segredo. Não adiantava. Os advogados de Fernando logo descobriam e impetravam recursos para ter acesso à apuração. Não foi só uma vez que Sarney apareceu nos telefonemas tratando da investigação. Em pelo menos três diálogos, ele demonstra preocupação com o inquérito. Em agosto, quando a Polícia Federal e o Ministério Público levaram à Justiça Federal do Maranhão o pedido de prisão de Fernando, o monitoramento revelou movimentos dos Sarney que, para investigadores, demonstram que foram alertados. Num dos diálogos, o próprio Sarney pediu a Fernando que viajasse, com urgência, a Brasília. As gestões da família no Judiciário para evitar a prisão de Fernando e a busca e apreensão em endereços dele e de outros investigados foram ampliadas. Em 10 de setembro de 2008, a pedido de Fernando, Galotti concedeu habeas corpus preventivo, "impedindo-se, até a solução do mérito (...), a adoção de qualquer medida constritiva a sua liberdade, de seus sócios e seus advogados". Em 5 de setembro, o juiz federal substituto Neian Milhomem Cruz negou pedido de prisão e busca feito pela PF. Depois, entrou em férias.

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