Contra radicalização, comandante do Exército decide não ter Twitter

Exército quer se manter distante da polarização e rejeita qualquer tipo de ruptura  

PUBLICIDADE

Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy
Atualização:

Caro leitor,

PUBLICIDADE

Os militares estão preocupados com a radicalização que toma conta do debate político, aproximando o País novamente do clima que imperou durante as eleições. Eles acreditam que os protestos – contra ou favor do governo de Jair Bolsonaro –, desde que sem violência, são parte integrante da democracia. Contudo, o respeito à ordem e à lei não é mais suficiente para acalmar suas apreensões. Preocupam os generais também a existência de palavras de ordem, como a do fechamento do Congresso ou do Supremo, e os pedidos por um golpe de Estado.

"Essa exacerbação é péssima”, disse um general, referindo-se ao que dizem algumas das pessoas que pretendem se manifestar no dia 26, em defesa de Bolsonaro. “O presidente está buscando o pessoal dele para sentir seu apoio, enquanto o outro lado começa a falar em parlamentarismo branco. Há radicais de ambos aos lados. É preciso jogar água nessa fervura”, confidenciou um general. Os radicais estariam tanto no PSL quanto na oposição. Exemplo disso seria a condução da crise envolvendo o contingenciamento de verbas no Ministério da Educação.

Presidente Jair Bolsonaro e o comandante do Exército Edson Pujol Foto: DIda Sampaio/Estadão

Na sexta-feira passada, dia 17 de maio, o próprio presidente elevou a temperatura política ao compartilhar pelo WhatsApp um texto o qual ele próprio qualificou como leitura obrigatória. Afirmava ter certeza: “o sistema vai me matar”. Dizia que o Brasil era ingovernável e punha a culpa no que chamou de “corporações”. “A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para que continuem mantendo seus privilégios”, seguia o texto. “A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível”, concluía.

Pegos de surpresa, os comandos militares tentaram na sexta-feira passar a impressão de que a vida seguia normal nos quartéis. Era como se nada daquilo tivesse a ver com cada uma das Forças, que nas casernas cuidavam de suas tarefas, desde a acolhida aos refugiados da catástrofe humanitária venezuelana até a vigilância da costa e da faixa de fronteira no Sul e no Centro-Oeste do País. Ao mesmo tempo, os generais reafirmavam que não haverá “ruptura” . “Não passa pela cabeça de ninguém (dos generais)”, afirmou um oficial. O Exército quer distância do barulho. Qual o papel nesse contexto desempenhado pelo chefe, o general Edson Pujol?

Não é só a presença militar no primeiro escalão que diferencia o governo Bolsonaro de seu antecessor. Mas também o perfil de quem comanda o Exército, o general Pujol. Ele é comandante que faz do contato direto com a tropa o centro de sua comunicação. Acredita que o Exército deve “fortalecer sua imagem como instituição de Estado, coesa e integrada à sociedade”. Um Exército, pois, que deve se manter distante da política partidária e de sua polarização, enquanto procura aumentar sua capacitação técnica para enfrentar os desafios da modernidade.

Se antes a Força tinha em Eduardo Villas Bôas um nome conhecido do mundo político, que se manifestava durante os debates públicos, agora, o Exército tem Pujol, um comandante cuja ênfase é voltada ao público interno, à capacitação técnica, à transformação da Força – mantendo suas tradições e valores éticos. Em um governo que busca mobilizar o País pelos posts no Facebook ou pelos tuítes do presidente e de seus filhos, em que o guru da Virgínia tenta lhe impor o programa de uma facção como o caminho a seguir e a rede bolsonarista na internet se manifesta de forma virulenta contra adversários e aliados, o Exército e os generais do Executivo procuram distância de extremos. Não podia, pois, haver um comandante mais adequado. Pujol não tinha twitter. E decidiu assim permanecer. Para além do estilo e do pensamento do homem, dar recados pela rede social não é mais uma necessidade do comandante quando o governo conta com tantos generais.

Publicidade

Leia nas Supercolunas:

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.