Conselho de Ética investiga se Renan mentiu em depoimento fechado

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Por Ana Paula Scinocca
Atualização:

A situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode ter se agravado depois do depoimento dado aos relatores do Conselho de Ética na quinta-feira. Além de não ter conseguido convencer dois deles, há a suspeita de que tenha mentido. Os relatores também podem tomar uma decisão no mínimo constrangedora esta semana: pedir o áudio do depoimento, para ver se bate com as notas taquigráficas. No depoimento aos relatores Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) e ao presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), Renan disse que tomou empréstimos de R$ 687,5 mil da Locadora Costa Dourada Veículos em 2004 e 2005 para completar gastos com pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Ele contou que preferiu não declarar os empréstimos à Receita para evitar a exposição de questões pessoais. Mas a pensão de Mônica foi oficializada no fim de 2005 e já constava da declaração de IR do senador. Os relatores também estranharam que os empréstimos tenham sido feitos em dinheiro vivo. A suspeita é que sejam, na verdade, retiradas da Costa Dourada, que pode ser mais uma sociedade do senador com seu primo Tito Uchôa, apontado como um dos seus principais laranjas na sociedade com o usineiro e ex-deputado João Lyra para compra de emissoras de rádio. No depoimento, o perito José João Appel Mattos, que acompanhou Renan, disse que os pagamentos a Mônica ''''terminaram criando a necessidade'''' de fazer uma dívida. ''''Não declarou os pagamentos, não declarou a dívida'''', revelam as notas, a que o Estado teve acesso. A mentira é falta grave no julgamento de processos de cassação e, por si só, pode configurar quebra de decoro. Marisa e Casagrande passaram o dia analisando as notas taquigráficas e podem até pedir o áudio do depoimento se detectarem falhas. É que a secretária-geral da Mesa do Senado, Claudia Lyra, braço direito de Renan, reteve as notas sexta-feira, alegando estar revisando o depoimento. Dos três relatores, apenas Almeida Lima, aliado de Renan, diz estar convencido de sua inocência. Os relatores devem apresentar seus pareceres na terça-feira. Quintanilha espera votar o processo na quinta.

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