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Conselho apura se TV pública sofre censura

Coordenadora de telejornais terá de depor sobre suposta interferência na emissora em nome do Planalto

Por Wilson Tosta
Atualização:

O presidente do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Luiz Gonzaga Belluzzo, afirmou ontem que a coordenadora de telejornais da TV Brasil, Jaqueline Paiva, será convocada para depor sobre a acusação de estar interferindo na emissora em nome do Palácio do Planalto. O depoimento se dará na comissão de corregedoria que está sendo instalada para investigar as denúncias do jornalista Luiz Lobo, demitido da empresa na semana passada. Lobo, que era editor do Repórter Brasil, noticiário noturno da emissora, acusou Jaqueline de editar textos conforme interesses políticos do governo. A EBC, que opera a TV pública, alega que o jornalista foi demitido por não querer assinar contrato e chegar para trabalhar apenas às 16 horas. "Ela (Jaqueline) vai ser chamada para se explicar", disse Belluzzo ao Estado. "Temos de ver se ela agiu pelo Palácio do Planalto. Quero ouvir todas as manifestações." Lobo alegou que as reportagens da TV Brasil só podiam falar em "suposto dossiê" ao se referirem ao caso do vazamento de dados sobre despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Também disse ter sido repreendido porque, numa reportagem sobre problemas no sistema de saúde, não foi citado o corte no Orçamento causado pelo fim da CPMF. Jaqueline é casada com o jornalista Nelson Breve, assessor do governo federal, mas isso, para o presidente do conselho, não é, em princípio, problema. "Não podemos alegar essa circunstância para levantar suspeição", afirmou. "Temos de averiguar o comportamento de Jaqueline, saber se ela interferiu de maneira indevida na emissora." A diretora da EBC, Tereza Cruvinel, informou que enviou ontem a Belluzzo "relatório circunstanciado" sobre o caso, expondo a saída de Lobo, as acusações do jornalista, "os fatos" e fornecendo links para o telejornal. "Queremos que vejam a qualidade do nosso jornal, não as futricas de uma demissão administrativa", afirmou. O Estado não pôde localizar Jaqueline Paiva. O presidente do conselho defendeu serenidade nas apurações. "Não quero saber de perseguições ideológicas", afirmou. "Mas divergências de opinião pode haver. É assim mesmo." Segundo Belluzzo, Lobo terá de demonstrar a suposta interferência do Planalto na EBC. Ele considera que a investigação será "uma coisa educativa para a mídia brasileira". SANÇÃO O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem a lei que cria a TV pública - que tem como princípio "trabalhar com autonomia em relação ao governo federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdo". Houve um único veto - ao artigo que colocava à disposição da emissora os sinais de eventos esportivos com a participação de equipes brasileiras, no Brasil ou no exterior. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência avaliou que o artigo criaria incertezas sobre o que seja "representação oficial do Brasil". COLABOROU LISANDRA PARAGUASSÚ

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