Condenado no mensalão mineiro, Azeredo se diz vítima de uma 'compensação política'

Ex-presidente nacional do PSDB afirma que juíza ‘desprezou’ argumentos da defesa ao condená-lo a 20 anos de prisão

Por Eduardo Kattah
Atualização:
Depois de renunciar ao cargo de deputado, Azeredo viu seu processo retornar para primeira instância da Justiça de MG Foto: Dida Sampaio/Estadão

O ex-governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB) classificou nesta quinta-feira, 17, como “absurda” a decisão da juíza Melissa Pinheiro Costa Lage, que o condenou a 20 anos e 10 meses em regime fechado por crimes de peculato e lavagem de dinheiro no mensalão mineiro – esquema de financiamento ilegal de sua campanha à reeleição em 1998, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República. Para Azeredo, a magistrada fez “um CtrlC-CtrlV” da acusação formal do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Em entrevista ao Estado, Azeredo disse que foi vítima de uma “compensação” política – numa referência às condenações e prisões de petistas desde o processo do mensalão federal. O ex-presidente nacional do PSDB – cônsul honorário da Coreia do Sul em Minas Gerais e consultor para assuntos internacionais da Federação das Indústrias do Estado – também vê no momento político explicação para sua pena. “Por que ela deixou para dar essa decisão justo nesse momento?”

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Como o sr. recebe a condenação a 20 anos de prisão? Estou muito decepcionado com o desprezo da juíza com os argumentos da defesa Ela optou por dar ouvidos a um falsário (o lobista Nilton monteiro), acusado de usar documentos falsos, como já tinha feito anteriormente o (Rodrigo) Janot (procurador-geral da República). Ela praticamente fez um CtrlC-CtrlV, fez uma cópia dos argumentos do Janot. É uma decepção muito grande. Demorou esse tempo todo e ela poderia ter lido a defesa. Eu vou recorrer ao Tribunal de Justiça.

O sr. sempre alegou que não tinha responsabilidade pelas finanças da campanha, mas sentença fala em organização criminosa... É um absurdo. Não tem prova nenhuma, mas ela foi na mesma linha de que não é crível que eu não soubesse. Em qualquer empresa pequena, as pessoas não são responsáveis por tudo o que acontece. Ela quer me responsabilizar por atos de diretor de banco. Isso não é o governador que é responsável. O processo continua. Isso é uma compensação política ao momento política. Eu continuo sendo vítima da compensação política.

O procurador-geral da República pediu que o sr. fosse condenado a 22 anos de prisão. A renúncia ao mandato de deputado federal foi porque temia uma eventual condenação no Supremo, quando não haveria mais recurso em outra instância? Fiquei surpreendido como o Janot colocou, usando documento falso. Quando eu vi a mais alta autoridade do Ministério Público usar um documento falso, isso me desencantou com a política. O fato de (o processo) vir para Minas foi uma consequência, mas eu dei por concluída a minha participação na vida pública. Tanto que não me candidatei no ano passado.

Como avalia o clima político do País, levando-se em conta a Operação Lava Jato. Teve influência na sua condenação? É um momento muito confuso do País como um todo e as pessoas vão ficando acuadas. Tem hora que falta coragem aos juízes de defenderem a Justiça. Por que ela deixou para dar essa decisão justo nesse momento?

Sua decepção com a vida pública não se aplica à vida partidária? O sr. vai permanecer no PSDB? Sou membro da Executiva Nacional. Todo ex-presidente é membro nato. É um partido que eu ajudei a fundar, continuo acreditando que o PSDB é o partido que tem a visão mais correta do Brasil. Claro que tem os seus poréns também, mas é o partido que tem as melhores qualificações.