PUBLICIDADE

Condenação no caso Galdino repercute bem

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado e ex-ministro da Justiça, Bernardo Cabral (PFL-AM), avalia que as manifestações divulgadas pela mídia em favor da punição dos quatro acusados pela morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos podem até ter influenciado a decisão do Tribunal do Júri, mas que o fato determinante para a condenação foi "a crueldade do crime". Em razão disso, ele considerou a pena de 14 anos de prisão ?bem dosada?, levando-se em conta agravantes, como motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. "A pena está na razão direta da atitude que esses rapazes tomaram", avaliou Cabral, observando que o Tribunal do Júri é o tribunal "mais democrático do mundo". A jornalista Valéria Velasco, que perdeu um filho - espancado até a morte por integrantes de gangues -, observa que a divulgação de manifestações favoráveis à condenação, como a do presidente Fernando Henrique Cardoso, não chegaram aos jurados por estarem estes incomunicáveis. Ela acredita que a publicação de matérias, em data anterior ao julgamento, serviu para a reflexão dos jurados, mas não para definir o voto, porque eles têm raciocínio próprio. Na opinião dela, a condenação dos assassinos ajuda a desfazer a imagem de Brasília como a cidade da impunidade. E serve também para a sociedade questionar a crueldade do crime, perpetrado com grande dose de preconceito social e falta de solidariedade, porque os assassinos imaginavam que a vítima era ?só um mendigo?. ?Ao invés de oferecerem cobertor e prato de sopa, decidiram atear fogo ao índio?, diz Valéria. A jornalista afirma que a mãe de Galdino pode ter o conforto de que houve justiça. Minervina Jesus dos Santos concorda, mas continua triste porque Galdino morreu. ?Não perdôo os meninos e não tenho dó das mães, porque elas não educaram os filhos e ainda podem vê-los na cadeia?. Minervina desejava pena máxima. ?Assim como mataram meu filho, eu queria que eles acabassem na cadeia.? O candidato do PT ao governo de São Paulo, deputado José Genoíno (SP), acredita que a decisão dignifica a Justiça e impõe uma derrota à impunidade no País. Mas no caso das declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo a condenação dos jovens, o deputado acredita que o chefe da Nação também deveria exigir a reformulação do sistema penitenciário. "Só pedir a condenação não resolve, porque este sistema penitenciário é imprestável, e uma condenação significa ir para a barbárie em lugar fechado", diz Genoíno. A seu ver, uma pena leve para o crime seria um péssimo exemplo para a juventude e um prejuízo enorme para a imagem do Brasil no exterior. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), parabenizou por telefone o advogado de acusação dos rapazes, Luiz Eduardo Greenhalgh, que é um de seus liderados na Câmara, pelo brilhantismo de sua atuação. Walter Pinheiro não tem dúvida da influência das pressões externas sobre os jurados e avalia que a causa maior da mobilização da opinião pública e da condenação é o fato de a vítima ser um índio em um País em que os índios vêm sendo dizimados há 500 anos. "Mas o resultado é um bom alerta para a juventude de que há limites para brincadeiras e de que perversidades deste nível não podem ser toleradas". A morte de Galdino teve, de fato, grande repercussão fora do País. Recém-chegado do Canadá, onde participou de uma conferência mundial de chefes de polícia, o coordenador de comunicação da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, coronel João Coelho Vítola, foi várias vezes indagado sobre o crime por jornais e emissoras de rádio e televisão locais. De volta a Brasília, o coronel acredita que a condenação dos jovens favorece a imagem do Brasil no exterior, além de constituir-se em fator inibidor de crimes semelhantes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.