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Compra de caças ilustra corrida por armas na AL, diz 'Monde'

Para o jornal francês, Brasil quer reforçar sua posição estratégica na região e se opor à influência americana

Por BBC Brasil
Atualização:

O acordo para a compra de caças franceses pelo Brasil, anunciado nesta segunda-feira, 7, pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, ilustra a corrida armamentista vivida atualmente pela América Latina, diz o jornal francês Le Monde desta terça-feira, 8. Veja também:

 

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"Sarkozy também finaliza em Brasília a venda de helicópteros de combate e a construção de quatro submarinos convencionais e um submarino nuclear - o que configura o maior contrato militar já assinado pelo Brasil", afirma o diário. "Com isso, o Brasil está tentando reforçar sua posição estratégica na região (da América Latina) e se opor à influência americana sobre o continente sul-americano." Em entrevista ao Le Monde, analistas ressaltam que a decisão do Brasil de procurar parceiros fora da América Latina para a obtenção de know-how de tecnologia militar pode "provocar uma corrida armamentista no continente e ser um obstáculo a uma maior cooperação com os países vizinhos no setor da defesa". Colômbia e EUA Segundo o jornal, o orçamento militar dos países sul-americanos aumentou 91% entre 2003 e 2008. O diário cita como exemplos a aquisição pelo Chile de tanques Leopard 2 e o recente acordo de cooperação militar entre os Estados Unidos e a Colômbia, que provocou reações negativas da Venezuela e do próprio Brasil. "Esses anúncios aceleraram a compra de armamentos por Argentina, Peru, Equador e Bolívia", afirma o Le Monde. "Além disso, a tensão se agravou nos últimos meses, com o golpe de Estado em Honduras, que lembrou aos países latino-americanos que as armas ainda têm sua voz no continente." Ainda de acordo com os analistas ouvidos pelo jornal, por se oferecer a fabricantes franceses, o Brasil acabou contrariando seu próprio discurso de ser soberano em matéria de armamentos. "O Brasil deveria dar o exemplo e não contribuir para a criação, no continente, de um cenário de possíveis enfrentamentos geopolíticos entre grandes potências estrangeiras", disse ao diário o analista brasileiro Thiago de Aragão. 'Bilhete premiado' O acordo entre França e Brasil também foi destaque no jornal francês Libération, segundo o qual, trata-se de um "bilhete premiado" para a indústria bélica francesa, que atualmente atravessa uma crise. O diário informa que os aviões Rafale, que o Brasil deve importar, serão vendidos "nus", o que deve obrigar o país a comprar também da França os armamentos que vão equipar as aeronaves. O Libération diz ainda que, sem o mercado brasileiro, a fabricante do Rafale, a Dessault Aviation, poderia fechar. "Desde sua chegada ao poder, Nicolas Sarkozy se dedica a dar a Serge Dessault, o grande patrão da empresa e também do jornal Le Figaro, um lugar central no jogo industrial francês", comenta o diário de oposição.

 

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