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Comissão pode votar hoje Estatuto da Igualdade Racial

Projeto estabelece a adoção de cotas para os negros em diversos setores, incluindo as novelas de TV

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Por Ana Paula Scinocca e BRASÍLIA
Atualização:

Em meio à polêmica, o Congresso volta a discutir hoje a questão das cotas raciais. Com uma semana de atraso, está prevista votação do Estatuto da Igualdade Racial em uma comissão especial na Câmara. O projeto prevê, por exemplo, propostas como a obrigatoriedade por parte dos órgãos públicos de incluir cláusulas de participação de artistas negros, em proporção não inferior a 20% do total de artistas e figurantes, nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças publicitárias. A questão das cotas foi transformada em política pública primeiramente nos Estados Unidos, onde se adotou o sistema de ações afirmativas depois de ter sido detectado que negros não tinham acesso à sociedade de consumo. Marginalizados, enfrentavam uma agressiva segregação racial, o que culminou na luta pelos direitos civis em todo o país no fim dos anos 50 e durante a década de 60. Entre os pontos mais controversos do estatuto, segundo o relator do substitutivo na Câmara, Antônio Roberto (PV-MG), está o que dá posse da terra para remanescentes de quilombos. Conforme o texto do relator, remanescentes de quilombos que estejam ocupando suas terras têm direito à propriedade definitiva, e o Estado deverá emitir os títulos. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), no entanto, vem advertindo que o texto é inconstitucional porque retira o limite temporal de ocupação de terras por quilombolas, previsto na Constituição. Lorenzoni afirmou que só remanescentes de quilombos que ocuparam suas terras entre 1888 e 1988 podem receber os certificados definitivos de posse. "Uma coisa é promover e valorizar o negro na cultura, e outra é permitir que ódio racial se instale no Brasil. Nós nunca tivemos isso aqui", disse Lorenzoni. Ontem, Antônio Roberto admitiu a possibilidade de "flexibilizar" o tema. Também não há consenso sobre a exigência de 20% de atores e figurantes negros em produções artísticas. Em relação a essa questão, o relator prometeu apresentar nova versão hoje, retirando o porcentual mínimo. "Vamos deixar como exigência apenas a adoção de igual oportunidade de emprego, sem falar em números", afirmou. Como o projeto provocou reações, ele deverá perder o caráter conclusivo e ser enviado ao plenário. Em seguida, voltará para o Senado, por ter sido alterado na Câmara. A proposta original é de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS).

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