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Começam os depoimentos em julgamento do coronel Ubiratan

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Por Agencia Estado
Atualização:

Começaram os depoimentos das testemunhas e dos sobreviventes do massacre do Carandiru e com eles o confronto entre defesa e acusação no julgamento do coronel Ubiratan Guimarães. Os três primeiros a depor foram sobreviventes do massacre de 111 presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, dois deles ainda estão presos e um está em liberdade há 7 anos. Todos relataram como os detentos foram metralhados em sua celas, sem reagirem. Por duas vezes, o advogado do coronel, Vicente Cascione, entrou em atrito com as vítimas e com a promotoria, sendo necessária a intervenção da juíza Maria Cristina Cotrofe. Enquanto a acusação explorou o desenrolar da ação policial, pedindo aos sobreviventes detalhes de como os presos foram massacrados, a defesa insistiu em pormenorizar o passado criminoso das vítimas, contradições entre seus depoimentos no processo e o feito em plenário e pediu a todos que detalhassem em um mapa a localização de suas celas em 2 de outubro de 1992, dia da chacina. O momento mais tenso ocorreu durante o depoimento de Marcos Antônio de Moura. Condenado por roubo, ele cumpriu a pena, que terminou há sete anos, casou-se, teve três filhos e, desde então, trabalha. "O policial pôs a arma na janela da porta da cela e atirou", contou. Disse que depois de a cela ter sido aberta, foi obrigado pelos PMs a arrastar-se pela galeria até o pátio onde escutou um deles dizer: "Deus cria e a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) mata." Cascione passou a fazer perguntas ao sobrevivente querendo saber por que os presos fizeram barricadas na entrada do pavilhão. Moura respondeu que era para não ocorrer aquilo que aconteceu, "a covardia deles (dos PMs)". E o advogado perguntou à vítima o que ele achava que a PM devia fazer. "Eu acho que a PM não deveria entrar, deveria vencer pelo cansaço. O senhor sabe se morreu algum PM?", respondeu Moura. "O senhor sobreviveu", disse Cascione. "Graças a Deus", completou a testemunhas. O promotor Felipe Locke Cavalcanti interrompeu o advogado e pediu que ele parasse de ser "impertinente". A juíza interveio e lembrou a todos que ela decidiria o que deveria ou não ser perguntado pelas partes. Moura foi baleado na mesma cela onde estava outra vítima que depôs ontem: Davi Ferreira de Lima, que foi o primeiro a ser ouvido. Suas versões foram semelhantes, mas, no caso de Lima, a defesa explorou uma contradição entre o seu depoimento no inquérito policial militar e o seu no plenário. No primeiro, Lima disse que havia se armado com um bastão durante a rebelião. No plenário afirmou que não tinha nenhuma arma. Ao ser indagado pelo advogado por que mudara de versão, ele não soube se explicar. PCC O segundo depoimento durou, assim como os demais, cerca de uma hora. Para contraditá-lo, o advogado explorou os antecedentes criminais da vítima Daniel de Souza. Condenado por cinco homicídios e seis roubos, Souza deve cumprir uma pena total de 66 anos. Ele relatou como os policiais atiraram nele e em seus colegas de cela, que segundo disse, estavam quase todos nuns e deitados. Cascione, então, perguntou onde o acusado estava preso. Ele respondeu que na Penitenciária 1 de Avaré. Indagou se ele tinha acesso à televisão e a vítima disse que não, pois só podia tomar banho de sol por 20 minutos. O advogado questionou a razão dessa punição e o preso teve de dizer que foi acusado de ser membro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de ter participado da mega-rebelião de 18 de fevereiro, quando 29 estabelecimentos penitenciários do Estado rebelaram-se. Por isso, acabou sendo removido da Casa de Detenção de São Paulo para Avaré, onde o governo isolou os membros do partido do crime. A previsão é que ainda devem ser ouvidas pelo menos mais quatro pessoas entre as 16 horas e 21 horas. Amanhã deverão depor as outras sete testemunhas - três de acusação e quatro de defesa. No dia seguinte, devem ocorrer os debates entre defesa e acusação, depois do que os jurados vão se reunir para dar a sentença absolvendo ou condenando o réu.

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