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Começa julgamento por assassinato de juiz

Por Agencia Estado
Atualização:

Começou nesta terça-feira em Cuiabá, com previsão para terminar apenas na quinta-feira à noite, o julgamento dos acusados pelo assassinato do juiz Leopoldino Marques do Amaral. O juiz foi morto em setembro de 1999 com dois tiros, um mês depois de ter denunciado uma rede de corrupção no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Entre as denúncias que até hoje não foram apuradas contra desembargadores, consta venda de sentença, tráfico de drogas, assédio sexual e prática de nepotismo. A única acusada de co-autoria do crime ouvida pelo juiz da 2ª vara federal Jeferson Schneider foi a escrevente Beatriz Árias. Desde o final de setembro de 99 ela se encontra presa. De acordo com dois inquéritos abertos pela Polícia Federal, ela teria ajudado seu tio, o taxista Marcos Peralta, que está até hoje foragido, a praticar o crime. Os dois teriam atraído o juiz, então titular da Vara da Família e Sucessões de Cuiabá, para Concepción. Leopoldino estaria em busca de provas contra os desembargadores do TJ de Mato Grosso. O procurador-geral da República em Mato Grosso, José Pedro Taques, deve pedir a absolvição de Beatriz Árias. Para o Ministério Público, o empresário Josino Guimarães está envolvido no crime. Guimarães, que já foi preso duas vezes, é amigo pessoal de alguns desembargadores. A ligação entre Josino e desembargadores foi investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Judiciário, que esteve em Cuiabá. O relatório da CPI do Judiciário sobre as irregularidades no TJ apontou que os desembargadores Odiles Freitas de Souza e Athaíde Monteiro da Silva podem ter cometido prevaricação e corrupção passiva. De acordo com o documento, o empresário Josino Guimarães pode ter cometido os crimes de concussão e exploração de prestígio. Diante das informações apuradas pela CPI, o relator Paulo Souto (PFL-BA) pediu à Procuradoria-Geral da República que complemente as investigações sobre a possibilidade de Josino Guimarães ter intermediado a venda de uma decisão favorável em recurso de agravo, que foi julgado pelo TJ-MT. O relator também propõs a abertura de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo de confirmar ou não a participação dos dois magistrados no caso. O relatório do senador Paulo Souto descreveu também o episódio da transferência de uma traficante de Mato Grosso para Alagoas por meio da influência de autoridades do judiciário. E responsabilizou dois juízes: Daniel Antônio Souza Aciolly, juiz em Alagoas, e José Geraldo Palmeira, membro do Poder Judiciário em Mato Grosso. O relatório recomendou ao Ministério Público que investigue a possibilidade da prática de improbidade administrativa de ambos, pois eles teriam recebido vantagem financeira. "Ainda falta muita coisa para ser descoberta", disse o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MT), Ussiel Tavares, para quem Beatriz Árias esteve no local do crime. O delegado paulista da Polícia Federal José Pinto de Luna, que presidiu o primeiro inquérito que investigou a morte de Leopoldino, é uma das quatro testemunhas de acusação arroladas pelo procurador Pedro Taques. "Nós vamos postular de acordo com as provas dos autos", disse o procurador, sem adiantar a estratégia que será usada pelo Ministério Público no primeiro dia de julgamento.

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