Se um programa eficaz para o combate da epidemia de dengue não for desenvolvido rapidamente, o País tem grande risco de, dentro de alguns anos, enfrentar uma epidemia semelhante a de países da Ásia, onde centena de milhares de casos são registrados. O alerta é do pelo assessor regional da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) para dengue em países da América, o biólogo Jorge Árias. Biólogo e pesquisador durante 12 anos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Árias avalia que o Brasil, nos últimos anos, errou nos programas de combate à epidemia: "O princípio de erradicação era equivocado. Os esforços estavam centrados em eliminar o mosquito quando, o ideal, seria dar ênfase à prevenção e controle." Para ele, nos programas de controle devem passar, necessariamente, pelo controle da pobreza. Veja a seguir trechos da entrevista: Agência Estado - Em 1981, a OPAS fez um alerta sobre o retorno do mosquito transmissor da dengue no território brasileiro. Por que não foi possível conter a epidemia? Jorge Arias - A elevação do número de casos é fruto da combinação de vários fatores. Temos o aumento da circulação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, e também da circulação de novos serotipos do vírus da dengue. Esses dois fenômenos são favorecidos por uma série de características das cidades: elas tiveram um crescimento desorganizado, em muitas delas há problemas de abastecimento de água, de coleta de lixo. E os habitantes não receberam, ao longo dos anos, uma educação básica para incorporar no dia-a-dia práticas que impeçam a formação dos criadouros. Agência Estado - É possível reverter essa tendência? Arias - É preciso criar barreiras entre o homem e o mosquito. Para isso, é preciso eliminar a pobreza e incentivar o melhoramento das habitações. Não é só uma questão de saúde. O programa de combate precisa incluir ações em vários setores, como melhorar o saneamento, garantir o abastecimento de água e fornecer educação em saúde para a toda a população. E esse programa tem de ser permanente. De nada adianta agir somente em épocas de calor e chuva. Agência Estado - É um programa caro... Arias - Essa idéia de se combater a dengue com programa bom e barato não existe. É caro mesmo. Não se pode combater a epidemia com uma bala só. É preciso um trabalho contínuo, 365 dias por ano. Caso contrário, é como ficar sempre apagando incêndios. As pessoas precisam se conscientizar da necessidade de eliminar criadouros de suas casas e isso tem de ser feito 365 dias por ano. Agência Estado - Parte da população assume a culpa pela epidemia, por ter em casa, por exemplo, uma bromélia. Eles são de fato culpados? Arias - Vamos dizer que a culpa é tanto da população quanto das autoridades. Mas devemos pensar no futuro. Agência Estado - Se um programa adequado não for feito, o que poderá ocorrer? Arias - O Brasil tem hoje condições muito parecidas com as de países da Ásia, há 30 anos. Lá, a epidemia demorou 30 anos para chegar à situação atual, onde centenas de milhares de casos são registrados. Se nada for feito no Brasil, essa situação chegaria mais rápido. Não levaria os 30 anos.